26 de jan. de 2015

O Sartori que José Ivo tem mostrado

Em 23 dias de mandato, o novo governador José Ivo Sartori (PMDB) já suspendeu concursos e pagamentos por falta de verbas, mas aceitou um reajuste salarial que foi renunciado após manifestações dos eleitores 

Há vinte dias o novo governador José Ivo Sartori assumiu o cargo com o desafio de equilibrar contas, porém, iniciou o mandato mandando rever todos os contratos do Estado. Para chegar ao objetivo o governador fez cortes drásticos nas despesas do Executivo. Sartori também reiterou diversas vezes ao longo da transição que colocaria pessoas com conhecimento técnico em cada área de atuação, mas acabou nomeando deputados e políticos em geral. Desta forma, sobraram vagas para suplentes na Assembleia Legislativa, onde o governador não deve enfrentar muita resistência, pois a tendência é de uma ampla e sólida base governista. 

 Na campanha do primeiro turno, o candidato peemedebista também resumiu a sua trajetória política à sua passagem pela prefeitura de Caxias do Sul. Apresentou-se, assim, como um gringo simples do interior, o “Sartorão da massa”, ex-prefeito de Caxias e, supostamente, sem filiação partidária nem passagens por governos além da prefeitura e o cargo de deputado que exerceu durante dois anos em 2002, antes de ser prefeito. Esses ocultamentos foram – e seguem sendo – vitais para a estratégia de Sartori. 

Na verdade, Sartori é um antigo membro dirigente do PMDB gaúcho, já governou o Estado várias vezes e é responsável por escolhas que se revelaram desastrosas para o Rio Grande do Sul, como a renegociação da dívida realizada pelo governo Antônio Britto, as privatizações de empresas públicas, planos de demissão voluntaria de servidores públicos e o modelo de pedágios adotado por este mesmo governo. 

Sartori também esteve no governo com Pedro Simon e Germano Rigotto e é co-responsável, entre outras coisas, pela gestão de José Otávio Germano (PP) na Secretaria de Segurança Pública. 

Medidas do novo governo em 23 dias de mandato: 

Primeira: O chamamento de mais 650 policiais civis aprovados em concurso realiado no governo Tarso Genro – há menos de uma semana de encerrar o mandato – não repercute bem entre os futuros gestores do Piratini. Ainda que prefiram não se manifestar oficialmente, nomes do primeiro escalão do governo Sartori entendem que essa é mais uma medida de Tarso que, tomada após o resultado eleitoral, prejudica a futura gestão. O argumento crucial é o impacto nas contas públicas, já apontadas como “em situação crítica”. 

Já Tarso deu três motivos para defender a convocação dos aprovados. Em primeiro lugar, pela confirmação da permanência do delegado Guilherme Wondracek como chefe de Polícia para 2015. O segundo motivo é a garantia de que o caixa do Estado vai ter condições financeiras de arcar com o impacto dessas novas nomeações. O terceiro, segundo o petista, é de que esses servidores dão sequência à politica de investimentos do Estado na valorização salarial e na redução dos déficits históricos de efetivos da Polícia. 

Segunda: A primeira medida do novo governo, depois do ato da posse, foi o decreto que corta despesas e suspende os pagamentos de dívidas contraídas na gestão de Tarso Genro (PT). Entre outras medidas, o texto prevê a suspensão do pagamento de “despesas de exercícios anteriores”, o que na prática significa o não pagamento dos débitos que forem deixados pela gestão Tarso Genro (2011-2014), que ainda estão por vencer. Com isso, os pagamentos a fornecedores que prestaram algum serviço ou produto ao Estado serão suspensos por seis meses. Informalmente, técnicos calculam que o montante de "restos a pagar" some R$ 700 milhões. 

Terceira: 40% das horas extras da Brigada Militar serão cortadas. Cai para 146 mil o número de horas extras mensais acrescidas à jornada normal do efetivo da Brigada Militar nos próximos meses — até 2014, eram 243 mil. A redução de 40% nas horas extras da BM e do Corpo de Bombeiros, ferramenta que supre a defasagem policial no Estado, foi oficializada na manhã de terça-feira (20). A economia prevista nas contas do Rio Grande do Sul é de R$ 12 milhões em seis meses — período estabelecido pelo decreto de redução de gastos implementado pelo governador José Ivo Sartori (PMDB). 

Quarta: Embora o ex-governador Tarso Genro (PT) tenha autorizado a convocação de 650 aprovados no último concurso da Polícia Civil no dia 26 de dezembro, o destino do grupo é indefinido. Conforme o chefe da corporação, delegado Guilherme Wondracek, por enquanto, nenhuma medida será tomada. A convocação está provisoriamente suspensa. 

A decisão se deve à publicação de decreto assinado pelo governador José Ivo Sartori no Diário Oficial do Estado na segunda-feira. O documento paralisa, entre outras medidas, a nomeação de novos servidores estaduais. A intenção é conter gastos. 

Mas o impacto da medida não atinge com força somente os cofres do Estado – muda também a vida de muita gente que dedicou tempo, dinheiro e esforço para ser aprovado em concursos com milhares de candidatos. Entre os possíveis futuros servidores do ensino público e das polícias civil e militar, há quem vá ter que esperar mais seis meses. 

Quinta: A Caixa Econômica Federal vai subir as taxas de juros do financiamento imobiliário. A alta valerá para os financiamentos tomados a partir de segunda-feira. A alteração se deve ao aumento da taxa básica de juros (Selic), que atualmente é de 11,75%. Serão corrigidas as taxas das operações com recursos da poupança (SBPE). Os financiamentos contratados com recursos do Programa Minha Casa Minha Vida e do FGTS não sofrerão qualquer correção. O maior aumento de juro promovido pela Caixa no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que regula a maioria dos financiamentos imobiliários, ocorreu na linha voltada aos servidores que, além de terem relacionamento com a Caixa, recebem seu salário pelo banco. O juro passou de 8% para 8,5%. 

Sexta: O governador do Rio Grande do Sul José Ivo Sartori (PMDB) sancionou na manhã da sexta-feira (16) o reajuste salarial para governador, vice-governador, secretários, deputados estaduais, Ministério Público, Judiciário e Defensoria Pública. Os aumentos foram publicados no Diário Oficial do Estado. Na manhã da segunda-feira (19) que abriu mão do reajuste concedido a seu vencimento. A medida também se estende ao vice-governador José Paulo Cairoli. “É uma decisão de caráter pessoal, por prazo indeterminado, do governador e do vice-governador”, afirmou Sartori. O comunicado foi feito no Palácio Piratini. 

Sartori ressaltou que o projeto concedendo reajustes ao governador, ao vice-governador, aos secretários, deputados estaduais, ao Ministério Público, Judiciário e à Defensoria Pública foi aprovado em 2014 pelo Legislativo, com apoio de todos os partidos. O governador enfatizou que respeita as outras instituições, de forma a preservar a harmonia dos Poderes de Estado. 

Contudo, este filme já foi visto no Governo Yeda. O Estado que não gasta é o estado que não investe para melhorar os serviços à população. E quando isto acontece, quem sai prejudicada é a própria população. Os próximos quatro anos serão duvidosos e difíceis para o novo governador. Não pagar as empresas que prestaram ou prestam serviços ao Estado, significa desemprego. O filme já passou. Agora, talvez, seja a repetição.

Fonte do texto: Jornal Tradição
Imagem: Divulgação

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