7 de jun. de 2015

As relíquias de Pedras Altas


Por que a restauração do castelo é tão importante para todo o Estado

A distância que separa a cidade de Pedras Altas de Pinheiro Machado, a mais próxima da BR 293, é de apenas 32 quilômetros (foto acima). Mas um caminho longo, devido às irregularidades da estrada, que está no plano para ser asfaltada, em uma obra que avança a passos lentos. Na paisagem, casarões antigos e cercas de pedras anunciam que um pedaço da história do Rio Grande do Sul passa por lá. E é este patrimônio que estará em pauta, em Bagé, na próxima sexta-feira, 12, em uma audiência pública. O objetivo é buscar soluções para o reparo do castelo construído por Joaquim Francisco de Assis Brasil; estrutura que chegou a ser colocada a venda pela família, que não tem condições financeiras de realizar todas as reformas e serviços necessários. O evento acontece às 14h, no Salão de Atos da Universidade da Região da Campanha (Urcamp).

A cidade
Pedras Altas, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem 2212 pessoas, já mostra logo na entrada o seu patrimônio. O portal remete ao castelo, erguido no início do século 20.

O castelo
A construção é imponente, apesar da idade e da conservação não estar em dia. A entrada da Granja de Pedras Altas, em frente à antiga estação férrea, é sucedida por árvores que levam até a entrada do castelo. Um poema feito pelo próprio Joaquim de Assis Brasil, registrado em pedras portuguesas, dão as boas vindas aos visitantes. Segundo os descendentes, a ideia dele era mostrar que o homem do campo não precisava ter aquele estereótipo de ser bruto. Podia ter cultura e sensibilidade.

No jardim, árvores, flores e um busto do criador daquele espaço. O castelo, no estilo medieval, possui 44 cômodos. O andar superior é de uso da família e nunca foi aberto à visitação. O térreo, até pouco tempo era possível visitar. Porém, a falta de reparos na estrutura, fez com que a família fechasse totalmente.
 

A construção iniciou em 1907. De acordo com os herdeiros de Assis Brasil, a escolha por fazer um castelo era uma homenagem à esposa, Lydia, membro da nobreza portuguesa e que sempre morou em castelos. Para a construção foi utilizada uma pedra comum na região, as quais foram lapidadas por arquitetos espanhóis trazidos ao Brasil especificamente para este serviço.

O interior
Ao entrar na primeira sala, já se vê artigos históricos, como espadas que Assis Brasil ganhou de reis, no período em que atuava como diplomata. A mesa onde foi assinada a paz da revolução de 1923 continua preservada; um relógio que foi de Bento Gonçalves continua em funcionamento, assim como um biombo, com parte revestida em couro, no qual o anfitrião fazia questão que todos os que lhe visitavam assinassem.
 

O que mais chama a atenção são os vidros quebrados de uma das janelas, que nunca foram consertados, nem na época que Assis Brasil era vivo. Durante a revolução, os chimangos invadiram a granja, mas o dono do castelo afirmou que toda a casa tinha que ter suas marcas.

Pelas paredes, as marcas do tempo. Tanto na estrutura, com algumas manchas, quanto as muitas fotos, que rememoram os tempos áureos do castelo. Como na época em que Santos Dumont passou por lá e Assis Brasil brincou de tiro ao alvo em uma maçã sobre sua cabeça (ao estilo Guilherme Tell); na visita que Getúlio Vargas fez ao local, ou ainda quando Eduardo e Marta Suplicy estiveram lá com o bebê Supla.
 

Os móveis foram importados de Nova Iorque, todos no estilo colonial.

Talvez o principal tesouro do castelo seja a biblioteca. Quase 20 mil exemplares em inglês, francês, latim e português. De acordo com a família, atualmente não se sabe ao certo que obras existem lá. Seria necessária uma pesquisa e catalogação por profissionais habilitados. Porém, tudo demanda recursos, o que torna impossível. Entre as relíquias ali guardadas, está a versão original de uma enciclopédia de 1751. A estrutura se mantém como Assis Brasil a deixou, mesma disposição dos móveis e dos apetrechos na escrivaninha.

O quarto do casal, oriundo de Paris, na França, é rico em detalhes e fotos. O roupeiro, por exemplo, tem um azulejo aplicado nas portas, com um pássaro. O banheiro fica ao lado, sendo que, na época, sempre ficavam no exterior das casas.
O minimalismo da família se confirma na sala de jantar. As louças, todas brancas e com as iniciais do proprietário, se mantêm em uma cristaleira. Os objetos de prata, como castiçais e jarras, foram organizadas de forma harmoniosa em uma lareira. Na parede, a cabeça de um cervo relembra a missão que foi dada a Assis Brasil, em 1895, quando as relações entre Brasil e Portugal estavam estremecidas. Ele foi para uma caçada com o rei português Dom Carlos, quando atirou na aspa do animal, deixando para a realeza o abate, atividade que era considerada de diversão à época.

A granja
Na propriedade, há outros itens importantes, como a primeira casa pré-moldada feita no Brasil. Um pouco mais longe do castelo, o cemitério com os restos mortais da família. No campo, a criação de raças trazidas por Assis Brasil ao país, como das vacas Jersey. A carruagem que carregava a família no início do século passado e o primeiro carro também estão resguardados no local.

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