18 de out. de 2015

Laudelino

Escrito por Luiz Fernando Leivas 
Ex-prefeito de Pinheiro Machado e Economista 

Na minha casa, quando eu era criança, ali na Vila Nova, havia três quadros nas paredes que rivalizavam com os retratos da família, os quais sempre chamaram a minha atenção. Um era do “Colorado” – Tricampeão do Brasil, eu olhava enciumado desejando um dia substituí-lo por um do Tricolor. Outro era um retrato do Teixeirinha e da Meri Terezinha. O terceiro, a ornamentar a sala da casa dos meus tios-avós, Tio José Pereira e Tia Tilia, era o retrato de Laudelino Cunha de Moura. Prefeito de Pinheiro Machado. Era o mais antigo dos outros dois. No vizinho do lado, o seu Pinho. Leopoldo Pinho, casado com a dona Vilma era o lugar onde eu acompanhava minha tia para ela assistir as novelas, nós não tínhamos televisão. Compramos a primeira na copa de 1978, uma Philco, daquelas “bolotinhas”. Logo na entrada avistava-se o retrato de Getúlio Vargas, e ao seu lado, a Carta Testamento do grande Presidente, lindamente emoldurados. E todas as noites eu lia a carta do Velho, não assistia à novela, ficava na sala fazendo perguntas ao seu Pinho, principalmente sobre Getúlio. 

A Política rivalizava em cada sala de cada casa. Orgulhosamente ostentando-se os políticos e as forças políticas que cada família representava. Uma vez indaguei ao meu tio José, porque aqueles três quadros mereciam tanto destaque. Ele dizia: - O melhor time. O maior artista. E Um Grande Homem. O maior político que ele conhecia. Maior que Getúlio? Continuava eu. Não sei se maior, mas se ele fosse candidato a Presidente votaria no Laudelino e não no Getúlio. Mas tu não votas tio. O senhor é analfabeto. E ria do meu tio. Ele não dava importância e voltava a apontar para o quadro do Inter. A conversa terminava Laudelino Um Grande Homem. Aprendi a vê-lo assim desde criança. O admirava. Embora tenha sido mais adversário do que aliado dele. Ele sempre me inspirou mais do que as outras lideranças de oposição. Tive o prazer, quando eleito Prefeito de recebê-lo no gabinete nos primeiros dias de governo. Foi uma conversa boa. Transmitia confiança e amabilidade e foram várias conversas depois, sempre interrompidas pelo Moura Neto, que dizia que o Prefeito estava precisava trabalhar e que ele deveria voltar outro dia. 

Numa ocasião quando recebeu homenagem da Maçonaria, pedi a palavra para homenageá-lo. Não pude conter a emoção, e por certo não falei tudo o que deseja ou o que ele merecia. Ele depois me agradeceu, abraçando-me fraternalmente. Coube ao Sr. Iran Veleda, naquela oportunidade, fazer o discurso de homenagem, resgatando a vida política e fatos pitorescos do seu Laudelino. 

Laudelino foi sim um grande líder político. E buscou trazer para Pinheiro Machado o que havia de melhor para superar a pobreza. Sim. Éramos uma cidade de pobres e miseráveis e analfabetos. Minha tia conseguiu através do Mobral, aos quase 70 anos, tirar o título eleitoral e votou pela primeira vez para Presidente em 1989. Laudelino transformou Pinheiro Machado e foi pelo combate à pobreza. 

Laudelino foi um político a frente de seu tempo. Um grande estrategista e articulador. Estas características é que sempre me chamaram mais a atenção a respeito dele. Mas um dos atos mais dignos que ele fez, para mim, foi o de ser testemunha a favor daquelas pessoas que foram presas durante a ditadura militar, em Pinheiro Machado. Um desses cidadãos era meu tio-avô, José Camacho, casado com a Tia Morena. Foram adversários do seu Laudelino por todo o tempo. Meu tio morreu e nunca teve qualquer reparação. E foi este gesto magnânimo, cheio de respeito e de solidariedade e também de coragem, que permitiu a minha tia ser indenizada, por ser meu tio uma vítima do regime de exceção. E não apenas ela, mas soube que fez o mesmo gesto por outras viúvas e filhos e filhas daqueles que nem mais vivos eram, mas que igualmente foram perseguidos. 

Laudelino perdoou aqueles que, muitas vezes por ordem das disputas políticas, o atacaram. Laudelino foi além disso. Teve a capacidade de compreensão de que os crimes da ditadura deveriam ser reparados e o fez com nobreza e com coragem. Coragem que faltou aos juízes da mais alta corte do País, o STF. Que até a presente data não desceram do muro sobre o assunto, marcando uma posição clara e definitiva sobre o tema. 

Laudelino, com o seu gesto de testemunhar em favor daqueles perseguidos, fez justiça, concedeu o perdão aos que lhe sempre o atacaram, e se uniu àqueles que um dia sofreram por terem seus entes queridos perseguidos, outros mortos e desaparecidos. Laudelino sim confirmou em sua longa trajetória de vida que de fato era em seu tempo, sempre foi, e ficará para a eternidade, como Um Grande Homem, tal qual o descrevera meu tio, fazendo jus seu retrato permanecer por mais de vinte anos na sala da minha casa. 

Faltou ao seu Iran Veleda um elogio final naquele maravilhoso momento de homenagem ao seu Laudelino. Talvez por ser um homem cuidadoso e discreto, não se atreveu a ir mais longe, talvez por não querer, demasiadamente alongar-se nos elogios. Por isso o corrijo, necessariamente, agora. Laudelino foi Um Grande Homem. Um Verdadeiro Líder. Laudelino foi o Maior Prefeito da História de Pinheiro Machado.

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