6 de jul. de 2016

Moradores querem anexar Vila Umbu a Candiota

Às margens da BR 293, a placidez da Vila Umbu, localidade do município de Pinheiro Machado, é quebrada pela movimentação intensa de caminhões, que fazem o transporte do cimento produzido pela Votorantim. A fábrica, responsável por quase 60% do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) do município, se avizinha à vila e é responsável pela maioria dos empregos dos moradores. A serenidade também é quebrada quando são questionados sobre a bandeira que levantam há mais de um ano, para mudar o mapa, com o desejo de anexação à cidade de Candiota.
O assunto vem sendo debatido desde 2015. A última discussão sobre uma possível separação da localidade aconteceu no final de junho, em uma sessão da Câmara de Vereadores do município, realizada na vila. Os moradores foram ouvidos pelos parlamentares, e a principal alegação para a separação foi a falta de investimentos da prefeitura no local e infraestrutura precária por falta de serviços públicos.
Falta de infraestrutura
A reportagem do Jornal MINUANO foi até o local ouvir os moradores sobre a situação. Dos nove entrevistados, nenhum se manifestou de forma contrária à anexação do território ao município de Candiota. E, assim como na sessão dos parlamentares, a falta de infraestrutura foi alegada por todos como principal motivação para levar o assunto à aprovação da Assembleia Legislativa.
João Ênio Finkler dedicou 36 de seus 57 anos de vida à rotina da pequena vila. Caminhoneiro, ele destaca a situação das ruas como uma das principais reivindicações dos moradores. "Nem uma patrola passa aqui, as ruas estão sempre nesse estado", comenta, apontando para o chão de terra que dá acesso à principal rua da vila.
Finkler acredita que a situação das ruas foi o que causou o estrago no caminhão que realizava duas vezes por semana a coleta de lixo. Agora, o serviço é executado apenas uma vez por semana, com um caminhão disponibilizado pela Prefeitura de Candiota. "É daqui da vila que sai a maior parte da renda do município (Pinheiro Machado), só que não vemos retorno algum em serviços. Não temos ruas boas, nem um local de lazer para as crianças. Não tem, sequer, médico no posto de saúde, imagina um banco de praça para sentar no final da tarde", ressalta.
Já o agricultor José Ernesto Preuss frisa a falta de uma rede de atendimento à educação adequada. A única escola da localidade, Senador José Ermírio de Moraes, é de ensino fundamental. Os jovens em idade de ingressar no ensino médio precisam ir até a sede do município. Ocorre que o transporte escolar foi cancelado e as famílias acabam tendo de desembolsar R$ 4,25 a cada deslocamento até Pinheiro Machado. "Sei que isso não é culpa do município, que o Estado também deveria investir. Se o estudante não paga o ônibus, não vai à aula. Não tem como ir de outra forma porque são mais de 15 quilômetros. É até mais perto ir para a Vila Operária (já em Candiota), que são 11 quilômetros daqui", destaca.
Moradora da vila há mais de duas décadas, Maria Eliane Batista Rodrigues, 48 anos, acredita que a situação poderia melhorar, caso a localidade fosse anexada ao território da Capital do Carvão. Segundo ela, muitos dos moradores já migraram seus trabalhos, escolas e até mesmo título de eleitor para a cidade vizinha. "Eu não fiz isso porque a vila ainda é de Pinheiro Machado. Não vou votar para eleger o prefeito em outra cidade, isso seria jogar contra mim", pontua.
A mãe de Maria Eliane, Nazi Castro Batista, 72 anos, afirma que falta vontade da política em melhorar as condições da vila. "Olha, eu sou aposentada e pago R$ 268 de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), sempre em dia, direitinho. Mas olha o estado que está a frente da minha casa. Não passam nem uma máquina aqui. Tenho certeza que, se quisessem, a fábrica de cimento daria o necessário para pavimentar as ruas, aí a prefeitura só teria que entrar com a mão de obra", aponta.
Filho de um dos primeiros moradores do local, o comerciante Tailor Rocha, 60 anos, acompanha há 40 anos o desenvolvimento da vila. Contudo, destaca que ela estagnou no tempo pela falta de investimento. Ele compara o local com bairros de Candiota. "Nós acreditamos que a vila ia desenvolver e ter uma boa infraestrutura. A Vila Operária, por exemplo, era só barro quando começou, e hoje está em outro nível, com ruas pavimentadas e saneamento básico. Aqui não temos nada", diz.
Segundo ele, a falta de um olhar da prefeitura ao local já afastou potenciais investidores. "Algum tempo atrás, um empresário queria comprar uma área aqui para construir algumas residências, fazer um loteamento. Mas aí desistiu, resolveu investir em outro local porque viu que aqui não teria retorno", relembra.
Culpa da crise
Ao ser questionado sobre a movimentação dos moradores, o atual chefe do Executivo, Felipe da Feira, já inicia o assunto de forma enfática: "Isso não vai acontecer, é contra a legislação. A fábrica fica na Vila Umbu e é nossa maior fonte arrecadatória", garante.
O prefeito reconhece que os investimentos feitos na localidade não são suficientes, mas destaca que o momento de crise afeta as finanças do município. "Estou tranquilo porque sei que faço o que posso com o que tenho disponível, não é má vontade. Mas não é somente aqui em Pinheiro que a situação está complicada, é em todos os municípios. Só não vê quem não quer", afirma.
Sobre o corte do transporte escolar, ele explica: "Nós estávamos gastando quase R$ 1 milhão por ano para transportar os alunos para as escolas do Estado. Enquanto isso, o governo estadual repassava apenas R$ 100 mil. Lamentamos a situação, mas tivemos que cortar, o município não tinha como arcar com os gastos sozinho, se tornou insustentável", explica.
Além disso, o prefeito diz que não acredita em uma possível anexação da vila à Candiota, porque os serviços básicos prestados, como saúde e educação, não seriam os ideais para os moradores. "Se eles precisarem, vão usar qual hospital? Candiota nem tem hospital. Vão acabar vindo para Pinheiro, de qualquer forma. E a escola da vila é uma das melhores do município, foi apontada como referência até pelo Ministério Público. Porque tirar as crianças daqui?", questiona.
Para Feira, há uma movimentação política por trás da bandeira levantada pelos moradores. "Eu sei que os moradores estão recebendo um apoio muito forte da Prefeitura de Candiota, porque há interesse deles em passar a vila para lá. Mas isso não vai acontecer, estou tranquilo. Não há como burlar a lei", finaliza.
Iniciativa acolhida
No final do seu segundo mandato à frente da Prefeitura de Candiota, o município com a maior arrecadação de ICMS da região, em valores proporcionais, Luiz Carlos Folador acolhe a iniciativa dos moradores com grande entusiasmo. Para ele, não haveria perda para nenhuma das partes se a transição for completada.
Isso porque, segundo Folador, a intenção de anexar a Vila Umbu satisfaria ao desejo dos moradores, aumentaria a arrecadação de impostos de Candiota, que daria o retorno em serviços para a população, e a fábrica continuaria pertencendo ao município-mãe. "Ninguém sai perdendo. Candiota aumenta a população e a arrecadação de impostos, com garantia de retorno em infraestrutura, e Pinheiro Machado continua com a arrecadação de ICMS da fábrica, que continuaria pertencendo ao município", afirma.
O prefeito afirma que não tem o desejo de se indispor com o Executivo de Pinheiro Machado. "Sei que há um desejo muito forte dos moradores, mas isso não depende apenas de Candiota. Deve haver um diálogo entre os moradores e a Prefeitura de Pinheiro sobre a situação", destaca.

Por: Melissa Louçan

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