12 de abr. de 2017

Jornada em Defesa do Camaquã reúne mais de 600 pessoas


Faixas, cartazes, palavras de ordem. Inúmeras foram as manifestações, muitas realizadas com forte caráter simbólico para evidenciar contrariedade à proposta de empreendimento do grupo Votorantim Metais Holding. 

Esse movimento denominado Jornada em Defesa do Camaquã ocorreu, ontem, nas Palmas, em um ato de mobilização organizado pelo deputado estadual Luiz Fernando Mainardi (PT), em conjunto com a mesa diretora da Assembleia Legislativa, com apoio do grupo União pela Preservação do Camaquã, que trouxe um sentido de comunhão de todos para com o rio. Com mais de 600 pessoas no evento, estavam presentes lideranças políticas do Estado e de municípios; representantes de instituições de ensino e pesquisa; de órgãos de defesa ambiental; ativistas e produtores, bem como pessoas que vieram de municípios como Bagé, Lavras do Sul, Caçapava do Sul, Pinheiro Machado, Amaral Ferrador, Encruzilhada do Sul, Cristal, Rio Grande, São Lourenço do Sul, Porto Alegre, entre outros, unânimes na posição de não aceitar a instalação da mina.
Na ocasião, esteve presente o presidente do Legislativo gaúcho, Edegar Pretto (PT), que foi recebido por cavalarianos que o levaram até as margens do rio para conhecer o Camaquã. Ele, junto ao deputado Luiz Fernando Mainardi, desceu um trecho do rio antes do almoço servido ao público presente. Em seguida, houve bênção ao movimento feita pelo padre Luciano Gouveia, que enfatizou o tema da Campanha da Fraternidade desse ano que é pela defesa aos biomas brasileiros. Após, houve a manifestação com discurso das autoridades políticas e dos organizadores.

Mobilização pelo “não”
 À reportagem, Pretto manifestou apoio irrestrito à causa. “As pessoas estão se mobilizando pelo ‘não’. Isso porque esse negócio beneficiará apenas um lado e afetará toda uma economia regional”, declarou o parlamentar, que ressaltou que buscará o consenso com os outros parlamentares para que toda a sociedade gaúcha saiba dos possíveis riscos que o empreendimento poderá trazer ao meio ambiente e à produção sustentável feita na região do Alto Camaquã. “É um movimento que não irá parar. É uma união de forças que irá buscar com vereadores, prefeituras, instituições e, demais poderes, alertar sobre o que poderá ocorrer, caso esse empreendimento seja instalado. Nós, como Assembleia Legislativa, vamos formalmente questionar junto à Fepam, para obtermos o real conhecimento acerca desse processo, pois nós como poder Legislativo temos que atender o desejo das comunidades”, ressaltou Edegar Pretto, que complementou: “Faremos outras atividades sobre esse assunto. Iremos reunir o colegiado de líderes e informar o que foi demandado aqui também à Fepam. A Assembleia Legislativa deverá entrar em uma luta institucional para atender essa demanda”, frisa.

Mais força ao movimento
Combater uma ação vista como extrativista que trará prejuízos ao meio ambiente, bem como impactos na economia da região. Esse é o objetivo declarado pelo deputado Luiz Fernando Mainardi. Ele destaca que o ato de ontem teve como objetivo aglutinar ainda mais forças para impedir a mineração.  “Além da comunidade estar cada vez mais participativa, órgãos fiscalizadores como o Ministério Público também estão observando cada etapa desse projeto e tudo isso porque não queremos essa ação de mineração aqui, um lugar em que entidades já conseguiram conquistar um selo de origem para produtos diferenciados, ou seja, uma produção sem uso de agrotóxico. Então, para nós, que há algum tempo defendemos esse rio. Queremos que aqui continue esse modelo de preservação”, afirmou Mainardi, que complementou que é notável que o movimento vem ganhando cada vez mais apoio. “Mais pessoas estão se aliando a essa causa porque entendem que esse tipo de empreendimento não trará benefícios a essa região e população”, destacou.

À margem da sociedade
Também presente no ato, a deputada estadual Regina Becker (Rede) disse que o movimento deve ser encarado como uma mobilização apartidária e de todos que querem preservar o meio ambiente. “Sempre fui de preocupar-me com as questões ambientais e, assim, prossigo com esses ideais na Assembleia Legislativa. Espero que mais deputados se juntem a essa causa”, enfatizou Regina, ao apontar que há cerca de um ano e meio, busca informações sobre o projeto de mineração e que avalia nele, não só o perigo de riscos ao meio ambiente com a contaminação por chumbo no rio, no solo e em produtos como a produção de carne, mas o de constituir comunidades atraídas pela promessa de emprego que poderão ficar à margem da sociedade, principalmente quando a mina for desativada. “Há inúmeros casos de empreendimentos que não geram o determinado número de emprego tão divulgado e muitas pessoas acabam ficando à mercê do crime e da prostituição. Deve-se é apostar nas vocações da região para que a partir dela se gere emprego e renda”, ponderou Regina Becker.
A integrante do grupo União Pela Preservação do Camaquã, Vera Scholante Colares, destacou que o evento comprovou a força da união de todas as entidades que não querem a exploração de cobre, zinco e chumbo em uma região que sempre primou pelo desenvolvimento sustentável.  Vera explicou que um exemplo de prejuízo ao rio é a exploração dele para o empreendimento. “Eles irão utilizar água do rio nessa mina e todos nós sabemos que há épocas em que o Camaquã está muito baixo. Irão extrair um volume muito maior do que a própria comunidade aqui utiliza. Isso irá afetar todo o rio, fora o risco de contaminação do solo, das pastagens pela poeira oriunda dessa mina que será a céu aberto. É por todos esses riscos que não queremos que ocorra mineração na região”, protestou.

Sem “plano b”
O vice-presidente da Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Alto Camaquã (Adac) e gestor do Arranjo Produtivo Local Ovinos (APL), Marcos Blanco, informou que só nas Palmas, cerca de duas mil famílias que vivem da agropecuária sustentável serão atingidas pela mineração. Blanco reforçou que a empresa irá trabalhar com materiais poluentes e prejudiciais à saúde humana, por exemplo, e não apresenta um “plano b” para impedir um desastre ambiental. “Por mais que se diga que os impactos serão contidos, atenuar o impacto não é anulá-lo”, manifestou Blanco.
Opinião similar foi a do presidente da Adac, Mateus Garcia, que após 10 anos de trabalho pelo desenvolvimento sustentável do Alto Camaquã, com conquistas como o reconhecimento de Arranjo Produtivo Local, e de uma marca coletiva, surge o risco de toda a produção diferenciada ser comprometida. “Uma produção que respeita o meio ambiente há mais de 200 anos pode ser afetada com um investimento de fora, que irá mudar a matriz produtiva por poucos empregos e por um pequeno período de tempo, deixando inúmeros impactos a toda região”, acrescentou.
Já o secretário de Meio Ambiente de Bagé, Aroldo Quintana,  também apontou o evento de ontem como um importante ato que representa o não de diversos municípios para a criação de uma mina da Votorantim Metais. Quintana avalia que a Fepam deverá ser sensível a reivindicação do povo que não quer a instalação do empreendimento. “Todos nós queremos que o ‘não’ seja ainda mais forte, que a Fepam escute o grito dessas comunidades e que respeite a posição da maioria que não quer esse investimento”, argumentou Quintana.
O próximo ato do movimento será uma audiência pública a ser realizada no dia 19 deste mês, em plena Assembleia Legislativa, em Porto Alegre. 

http://www.jornalfolhadosul.com.br/noticia/2017/04/08/jornada-em-defesa-do-camaqua-reune-mais-de-600-pessoas

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