14 de nov. de 2011

O começo da Comparsa da Canção



Por Delci Oliveira


A Professora Sandra Peraça me faz sacudir o pó da memória e contar como nasceu a Comparsa da Canção. Foi assim:
Numa tarde de primavera, em 1984, procurou-me o Cláudio Ribeiro, extensionista da Emater. Projetava-se, no Sindicato Rural, a Feovelha – Feira e Festa Estadual da Ovelha. Até ser oficializada pela Secretaria Estadual da Agricultura, era necessário sigilo absoluto. Na organização, o Sindicato Rural, a Emater, com o apoio da Prefeitura Municipal.
Seria um evento inédito no Estado. Consoante com a venda de rebanho ovino para reprodução, tencionava atrair a população de Pinheiro Machado e municípios próximos. Como entretenimento principal, pensavam em duas opções: Contratar o Clube do Bolinha, da Bandeirantes de São Paulo (que fizera sucesso na Festa do Milho, em Canguçú), ou criar um Festival de Música Nativa que destacasse a nossa Ovinocultura. O festival era ideia do Cláudio.
Éramos parceiros de Futebol de Salão e era nosso amigo comum João Rafael de Olanda, do Banco do Brasil, que sonhava criar um festival estudantil na cidade. Juntamo-nos, os três, e procuramos o Patrão do CCTG, Derny Alves Martins, que abraçou a idéia. Foram aparecendo muitas outras pessoas dispostas a ajudar Não aponto nenhuma para não cometer injustas omissões. Quem mergulhou nessa aventura sabe o quanto foi gratificante participar do grupo.
Veio a 1ª Feovelha em janeiro de 1985. Junto, a 1ª Comparsa, com jovens artistas da vizinhança que começavam carreira, e gente nossa, todos amadores. Eram umas doze músicas no palco, uma meia-água de costaneiras, quinchada com santa-fé, virado para o poente. A plateia em banquinhos, cadeiras de praia e até dentro de carros, aplaudia, encantada. O som à noite, ouvia-se de longe, suave e bom. Não doía nos ouvidos, como agora.
No tema sobre a Ovelha, a música vencedora era de Dorval Dias, nascido na Embrapa de Bagé. A linha livre premiou Norma Coronel Trindade, nascida bageense e aquerenciada entre nós. O intérprete foi o Dr. Cláudio José Goulart (Campeador de Estrelas).A “Lula”,o “ Sabadinho”, a “Bitela”(é um gosto lembrar jovens por seus apelidos) fizeram uma música para o “Seu João da Lata”, que chefiava há muitos anos uma comparsa de esquiladores. E concordou em sentar-se no palco, com a esposa, dona Rosinha, que acompanhava o marido nas esquilas, cozinhando para o pessoal e quitandeando rapadurinhas. Essas pessoas fazem parte da história da ovinocultura em nossa região, desde tempos muito antigos até quase ontem!
Hoje a Feovelha não precisa da Comparsa. Nem pode pagar por ela.E a Prefeitura organiza sozinha, com dinheiro público e poucos patrocinadores. A Comparsinha, que começou agora em 2011, talvez seja o caminho de celebrar a criação ovina, através da arte, com gente da terra, meninada aprendendo música e poesia a partir da escola. As composições poderiam ser ensaiadas o ano inteiro, quem sabe valendo nota em Educação Artística, que agora é matéria curricular. A música regional gaúcha anda decadente. Repetitiva, festeira, aeróbica. Cada vez mais bailável e menos audível.
Tanto que a 1ª Comparsinha, acontecida agora em 2011, não recebeu nem 20 composições inscritas. E a música vencedora teve a autoria de... Norma Coronel Trindade!... 26 anos depois!... Mérito dela, claro, mas a prova cabal, pelo número de concorrentes e a qualidade geral no palco, de que não aproveitamos para evoluir. A cultura musical não vingou nas Cacimbinhas, onde assistíamos aos domingos, na Praça, há 50 anos, a Banda do Maestro Lodovico Porzio, que era italiano, mas os músicos todos daqui.
Por isso, vale a pena seguir com a Comparsinha. Um festival pra nossa moçada guapa, em lugar dos “profissionais” que se sustentam hoje desse gordo e lanudo mercado. Só aqui em Pinheiro Machado há mais de 20 anos!... Vejam dois exemplos:
Na 4ª Comparsa, em 1988, o lançamento do disco foi no CCTG Lila Alves, na Semana Farroupilha. Venderam-se mais de 200 LPs. Veio de Porto Alegre o intérprete da música vencedora, muito bem pago para abrilhantar a festa. Nosso herói brindou-nos com seus maiores sucessos e só não cantou a música do disco porque esqueceu letra e melodia. Esse o valor que ele e tantos outros dispensam ao nosso festival.
Outro: na 22ª edição, em 2009, uma comitiva de Santa Maria chegou debaixo de um temporal e, não podendo alojar-se no Ginásio de Esportes, que era o lugar oferecido pela Prefeitura (um dos músicos trouxe a esposa, bastante grávida e a passeio), hospedou-se a meu conselho e por sua conta, num pequeno hotel da cidade. O proprietário fez-lhe metade do preço normal, em consideração pela circunstância. Menos mal para mim que tive de arcar com a hospedagem, pois os “artistas” escafederam-se na madrugada de segunda-feira, DEVIDAMENTE REMUNERADOS EM R$ 1.800,00, pela brilhante apresentação na Terra da Ovelha!
Venha pois a Comparsinha. Os calaveiras, se os houver, que sejam daqui mesmo!
Por fim um lembrete às pessoas que desejem ter em CD até à 9ª Comparsa que tem gravações em LP, o ZAIR MACHADO LOPES, do Banco do Brasil, mandou remasterizar em CD.

4 comentários:

Anônimo disse...

vai saber se ano que vem vai sai a comparsa né pq ta tudo acabando nessa cidade mas acho que a comparsa não pode parar inclusive acho que pinheiro deveria cutivar mais a tradição por exemplo fazer bailes gaúchos os donos de clubes só querem funk, sertanejo e pagode ... isso é uma pena até as dumingueiras ja é so sertanejo. INFELIZMENTE PINHEIRO MACHADO NÃO TEM ORGULHO DE SER DO RIO GRANDE DO SUL ...

Anônimo disse...

Não concordo que Pinheiro não tenha orgulho de ser do RS, é só ver o movimento tradicionalista no 20 de setembro. Quanto a Comparsa tomara que saia em 2012, apesar da crise financeira que a Prefeitura está enfrentando. Vcs sabem que sai mais de 100 mil uma Comparsa?

Anônimo disse...

sempre tem uns puxa saco, mas concordo com o anonimo do dia 14 pq pinheiro so lembra das tradiçoes na semana farroupilha e na feovelha no resto do ano esquece e nos clubes é bem como disse o anonimo é so pagode sertanejo e funk falta um joca martins luiz marenco entre tantos outros ..

Anônimo disse...

Olha, pessoal, quem gosta de tradicionalismo tem a opção do nosso CCTG Lila Alves. Nosso movimento não é somente no dia 20 de setembro. Se luta o ano inteiro buscando fazer fandangos, nossas prendas e peões tem buscado e ganho vários prêmios.Quem vive lá sabe disso: nosso cctg sempre tem o maior número de participantes entre os outros ctgs da região que são 9 municípios.E se não trouxemos conjuntos e artistas famosos é por que o pessoal não valoriza, não participa e aí a parte financeira complica. Venham junto conosco, é ainda o melhor lugar para se ir.