26 de jun. de 2009

Pirâmide Invertida - O jornalismo em nossa região

Por Nadianne Momo
Colunista do Blog

Como jornalista formada, jamais deixaria de me manifestar sobre o tema polêmico que tomou proporção nacional na última semana: o STF derrubou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da função de jornalista. Na mais pura verdade daqui para a frente, qualquer um poderá dizer que é jornalista, mas poucos poderão dizer que são bons jornalistas.

Em nossa região, anualmente a Urcamp forma profissionais. Alguns excelentes, outros nem tanto, como acontece em qualquer profissão. Há bons e maus jornalistas assim como bons e maus advogados, médicos, arquitetos e engenheiros. Como em qualquer decisão há pros e contras. Para quem não sabe, o curso superior de Comunicação Social dura quatro anos, ou seja, oito semestres, estudando redação, teorias, semiótica, informática, planejamento gráfico, filosofia, sociologia, tudo para que o jornalista se torne um profissional com ampla visão de mundo, crítico, indignado, curioso, criativo e ainda, pagando caro por isso, mensalidades valiosas. Parabéns para que é tão autodidata e suficientemente inteligente para aprender e pôr em prática tudo sozinho, sem um mestre. Eu não sou. Eu não fui, por isso fiz faculdade e mais, faria tudo de novo.

Ser jornalista ao contrário do que os “ditos jornalistas” dizem não é só ter habilidade com as palavras, senão os profetas de Cristo formariam uma equipe de redação. Ser jornalista é ter um amplo e diversificado olhar sobre o mundo. É ter aquelas noções de psicologia que faz com que saibamos identificar se uma fonte está mentido ou não em uma entrevista através da sua comunicação corporal. É saber construir um texto colocando o lead de maneira correta e as impressões do repórter que não fazem o texto se parecer com uma ata mas sim uma construção do jornalismo interpretativo. O que é notícia? Que bom que todo mundo soubesse que há critérios como o ineditismo, improbabilidade e proximidade. Se soubesse que é box, retranca, bigode, pirâmide invertida, release, então para que os jornais?

Na minha infância adorava desenhar plantas de casas, prédios e etc, mas nem por isso me considero arquiteta. Conheço bem meus direitos trabalhistas e de consumidora, mas nem assim me considero advogada. Agora dizer que saber escrever e ter intimidade com as palavras é o requisito suficiente para ser jornalista, por favor, é muita pretensão!. Com todo o respeito aos não formados que exercem a profissão, e aliás há excelentes no mercado, ser jornalista é mais. É fazer um texto sem se enredar e ouvir as duas partes utilizando o release como base e não como cópia, usar fontes de peso, buscar sempre o furo e querer sair da frente, elaborando textos que de alguma forma influencie pessoas.

Na região temos exemplos formados na Urcamp. Dionana Mello, repórter da ZH na região metropolitana; Marina Lopes representante da ZH na fronteira Oeste; Fábio Shafner da ZH em Brasília; Márcia Marinho, assessora do deputado Afonso Hamm, entre outros além dos mestres que lá ensinaram como Fifa Quintana que por muitos anos assessorou Pedro Simon; Cárlida Emerin, uma das poucas doutoras na área que hoje é coordenadora do Curso de Comunicação da Unipampa em São Borja e teve sua tese premiada em nível nacional. E ainda as vozes que entrar pelo rádio em nossas casas todos os dias, Emanuel Muller e João Vicente Gallo formados, que ilustram a maior rádio da região, a Difusora AM. Gostaria de falar de mais colegas e amigos, mas são muitos e que só posso dizer para quem este artigo tiver a oportunidade de alcançar: “Força. Somos jornalistas de fato, direito e capacidade e não meros conhecedores da arte de se comunica. Sempre tem lugar para quem é bom”.

Citei tantos nomes de formados de sucesso e reconhecimento, agora por favor, cite no mínimo cinco não formados da região com o tamanho patamar...

Abraços
Nadiane Momo
Jornalista

Nadianne Momo é jornalista com pós-graduação em gestão de pessoas. Nascida em Bagé, mas radicada no município vizinho de Candiota, assina a coluna Pirâmide Invertida, que abordará assuntos de interesse da região.

3 comentários:

marcelo souto disse...

Parabéns Nadiane, ótimo texto. Abraço

Gislene Farion disse...

Baita postagem mesmo, parabéns!

Vinicius Peraça disse...

Muito bom, Nadiane. Se hoje temos jornalistas que sequer sabem construir uma notícia e buscar as fontes certas, imagine daqui para frente sem a exigência do diploma. Além disso, a tendência é de desvalorização profissional, já que as empresas menos compromissadas com a qualidade profissional irão pagar salários abaixo do piso (que já é baixo).