17 de abr. de 2013

Manifestação em Candiota reúne vítimas de acidentes

Protesto trancou a rodovia Miguel Arlindo Câmara exigindo segurança no trânsito
 
Manifestantes fecharam a rodovia Miguel Arlindo Câmara em Candiota na manhã de ontem. O protesto teve início às 6h30min e se estendeu até por volta do meio-dia, com saldo de engarrafamento que ocupou grande parte da rodovia, que possui cerca de 14 quilômetros de extensão. A manifestação pacífica buscava chamar a atenção do poder público para uma situação grave do município: as más condições de trafegabilidade daquela estrada, que já causou dezenas de mortes nos últimos anos.



A manifestação “SOS Candiota” foi amplamente apoiada pela comunidade, que compareceu em número expressivo para demonstrar a dor e o luto causados pela rota, que vitimou três candiotenses na última semana. O horário foi escolhido justamente para fechar a via nos horários de maior fluxo de tráfego.
Uma das organizadoras da manifestação, a funcionária pública Josuelem Duarte Ávila explicou que o último acidente foi o estopim para a realização da manifestação, mas que um ato público de repúdio aos acidentes já vinha sendo pensado há algum tempo, em decorrência do grande número de vítimas.

Para ela, a melhor situação para evitar novos acidentes seria a federalização da via, cujo projeto de lei está no Senado para ser votado. Porém, enquanto a solução definitiva não chega, o jeito é lançar mão de medidas paliativas para diminuir o risco. “O ideal seria que as empresas que utilizam a estrada diariamente fizessem uma parceria para manter em boas condições. Sabemos a realidade do município, que não pode arcar com essas despesas de manutenção. Precisamos desse alinhamento das principais empresas daqui para manter as condições enquanto não ocorre a federalização”, defende.

Entre os manifestantes estavam diversos parentes de vítimas do acidente. José Valter da Silva, 66 anos, era uma destas pessoas. O aposentado perdeu a filha, Isabel Cristina da Silva, 25 anos, em 2005, quando ela foi atropelada por uma caminhonete enquanto esperava o ônibus na Miguel Arlindo. Mesmo em meio à dor de relembrar a tragédia, e fez questão de ir até o local com as filhas, Daniele, 27, e Vera Regina, 32, engrossar a fileira de manifestantes.

“Esse trecho, do trevo até a entrada da João Emílio é pequeno, sem marcação ou sinalização nenhuma. Isso é um problema muito sério e vamos seguir nos manifestando até que seja resolvido. Não foi só a minha filha que morreu aqui, quase todo mundo tem um parente, amigo ou conhecido que perdeu a vida nesta estrada”, desabafa.
As irmãs Dília Graciela, 27, e Dianes Moura carregavam faixas e cartazes com uma listagem das vítimas dos últimos 13 anos. Para elas, relembrar as tragédias é relembrar a morte da irmã Patrícia de Moura Duarte, que em 2011 faleceu, vítima de um acidente de moto em uma das curvas da estrada. “Estamos participando por ela e dando força para outros familiares que também perderam entes querido aqui. Esperamos conseguir nossos objetivos, mas se for necessário, pararemos a estrada de novo”, adianta Dília.

Dianes afirma ainda que a listagem contendo os nomes das vítimas da Miguel Arlindo Câmara não é oficial, foi feita de maneira informal, no grupo de organização da manifestação em uma rede social. “Essa estimativa é por alto, nós lembrarmos de 28 vítimas, apesar de não saber o nome de todas. Mas com certeza foi bem mais, porque passam muitas pessoas de fora da cidade por aqui e acabamos não gravando o nome porque não conhecemos as vítimas”, explicou.

Dentre as muitas famílias destroçadas pelos acidentes na rodovia, a do policial militar Luís Mário Alves Peruchena é uma das mais recentes. Ele morreu, junto com o filho caçula David Alves Branco Peruchena, oito anos, no acidente que também vitimou o caminhoneiro Rodrigo Teixeira da Silva, no último dia 10. Mesmo ainda ostentando o pesar, o filho de Peruchena, Cristofer, participou da manifestação, demonstrando a importância do ato para o município. “O que aconteceu com a minha família poderia ter acontecido com a família de qualquer um. Essa mobilização pacífica é para isso, para chamar a atenção para o problema”, contou o jovem de 18 anos. Sobre a situação atual da família, o soldado afirmou: “Temos que segurar na mão de Deus e seguir em frente”, desabafou, emocionado.

Agora resta esperar a resposta do poder público ante a manifestação. O projeto de lei que versa sobre a federalização da via já foi aprovada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Ministério dos Transportes. Agora, tramita no Senado e deve ser votada nos próximos dias pela Comissão de Constituição e Justiça e Comissão de Infraestrutura e Logística.

A construção da estrada foi iniciada em 1973 pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Com extensão total de 14.605,33 metros, é a principal via de acesso para a Usina Termelétrica Presidente Médici e meio de ligação entre os núcleos habitacionais do município. Atualmente, ela não está sob jurisdição de nenhum órgão de poder, já que quando o complexo termelétrico passou para as mãos da Eletrobras, a estrada não foi federalizada junto.

Balanço das perdas
21/10/2006 - Acidente com ônibus deixa mais de 25 feridos
19/06/2007 - Morre vítima do acidente do ônibus de Candiota
30/10/2009 - Ciclista morre atropelado
08/12/2009 - Mulher morre após sofrer acidente de trânsito
07/06/2010 - Idoso morre após acidente
22/09/2010 - Vítima de acidente morre
03/01/2012 - Homem é encontrado morto
01/10/2012 - Jovem de 22 anos morre em acidente
11/04/2013 - Tragédia: acidente faz três vítimas fatais

Fonte: MinuanoOnline

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