
Por: Diego Moreira
A canção gravada por Joca Martins vem sendo criticada pelo ritmo e
pelo uso das expressões "bagual" e "nascido em cocho de sal".
A
polêmica envolvendo a música Eu Sou Bagual nasceu em Santana do
Livramento, cidade retratada na letra de e onde o músico ambientou o
videoclipe. As críticas partiram de Rui Francisco Ferreira Rodrigues, 60
anos, coordenador da 18ª Região Tradicionalista (RT), com sede em
Santana do Livramento, em entrevista ao blog Repórter Farroupilha,
atualizado pelo repórter Giovani Grizotti no portal G1.
Rodrigues
argumenta que a letra é ofensiva porque "bagual" seria sinônimo de
"grosseiro, mal-educado e ignorante". Já o "cocho de sal" seria o local
para guardar comida dos animais no campo.
— Essas expressões
desrespeitam nosso povo, que não é bagunceiro e muito menos foi parido
no meio do campo. Isso é uma chacota — afirma Rodrigues.
Para o
tradicionalista, o ritmo também não está adequado aos acordes
nativistas, pois parece "lambada", conforme disse no blog. Esse foi um
dos pontos de maior repercussão nas redes sociais.
Joca Martins
rebate as críticas. Com 26 anos de carreira, o pelotense diz que aceitou
gravar Eu Sou Bagual, com letra e melodia de Fernando Soares e Juliano
Gomes, respectivamente, como homenagem à cidade que sempre apoiou o seu
trabalho. — A música usa a licença poética, exaltando o jeito de ser do
gaúcho, que é bagual, não no sentido pejorativo, mas por ser guerreiro e
que nunca se entrega — esclarece. Martins lembra referências de outros
compositores, como o poeta Antônio Augusto Ferreira, que ganhou a
Califórnia da Canção Nativa em 1980 com a canção Veterano, que diz "Sou
bagual que não se entrega, assim no más". Já a referência ao "cocho",
segundo Martins, seria uma forma de identificar o gaúcho como xucro que
nasce no campo e se orgulha disso.
Em defesa do ritmo de Eu Sou Bagual,
o próprio autor da melodia, Juliano Gomes, nascido em Santana do
Livramento, assim como o letrista Fernando Soares, desmente que se trata
de uma lambada, embora seja um ritmo envolvente:
— Fizemos uma mistura
de milonga com cúmbia que deu certo, mas, como tudo que se inova, tende a
causar estranhamento. No fundo, fizemos o que a música gaúcha sempre
fez, que é misturar estilos e dar o nosso toque — diz Juliano.
Para o
presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Erival Bertolini,
não existe polêmica mas, sim, diferentes interpretações. Ele afirma que a
entidade não tem poder de censura sobre as canções e que, pessoalmente,
discorda das críticas do coordenador da 18ª RT.
— Respeito da opinião
do Rui, que é um defensor da nossa cultura, mas entendo que não existe
ofensa na música do Joca que, ao gravá-la, quis enaltecer a cidade —
conclui Bertolini.
Com mais de duas décadas de carreira, Juliano Gomes
lembra que já passou por outra controvérsia fruto de divergência de
interpretação há cerca de oito anos, quando a música Pra Bailar de Cola
Atada, produzida em parceria com Anomar Danubio Vieira, foi gravada por
César Oliveira & Rogério Melo. — Alguns do MTG diziam que ela estava
incentivando a promiscuidade, porque o baile de cola atada era onde as
mulheres dançavam com o vestido atado na cintura. Para nós, queria dizer
apenas que é um baile bom — afirma o músico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário