25 de set. de 2013

Médica Silvia Letícia Sphor desabafa!!!




“Trabalho no SUS em Pinheiro Machado, Candiota e Pedras Altas. Nossa dificuldade no Interior é a fila do SUS, tanto para exames quanto para especialistas. Tem exames mais sofisticados, como ressonância, endoscopia, colonoscopia, que demoram até dois anos. Por exemplo, se tu tens uma suspeita de tumor, demora muito para fazer, e a doença avança. Isso acaba com as chances de diagnóstico precoce. Esta semana mesmo vi uma paciente de oncologia morrer porque a consulta para o especialista demorou cinco meses e não deu tempo de ela iniciar o tratamento. No Interior, o SUS não preconiza ter grandes especialistas, mas ter cidades-referência para tratamento, que no meu caso são Pelotas ou Bagé. As prefeituras funcionam bem. A pessoa consulta no posto, o médico vê necessidade de ser encaminhado, a secretaria de saúde marca a consulta e agenda a viagem junto. Então as prefeituras passam carregando gente todo dia, várias vezes ao dia.

O problema é que o SUS demora muito. É muita gente para usar a mesma coisa. Há pouco, examinei uma moça. Ela está com nódulo no seio. Daí perguntei a ela: ‘Tu tens plano de saúde?’. E ela: ‘Não’. Daí tu ficas assim, porque até ela conseguir fazer um ultrassom pelo SUS, o problema já pode estar disseminado, sabe? Uma mulher com menos de 40 anos. Aí eu disse para ela: ‘Olha, vou te pedir um ultrassom, tenta fazer o mais rápido possível. Vai na secretaria, tenta marcar. Se demorar muito, tenta conseguir um dinheiro emprestado e fazer um exame particular, conseguir mais barato, sei lá, tenta te virar’. A vontade que tu tens é de conseguir tudo para todo mundo, é muito frustrante.
Quando é emergência, também é difícil. Primeiro porque tu te expões muito: pode dar um acidente, por exemplo, com 10 feridos graves, e só tu de médico. Mas daí tu mandas para uma cidade maior, e o hospital está superlotado. Não tem leito, não tem medicação. 

Às vezes, a gente tem de escolher quem é que vai para o leito, quem é que vai morrer, quem vai receber o remédio. Às vezes, acontece de ter pouca medicação, e tu teres de escolher quem vai receber aquela medicação. Ou não ter a medicação: já me chegaram vários casos de pessoas enfartando e eu não tenho remédio. Ficamos eu, o paciente e um raio X. Porque é uma medicação muito cara, tipo R$ 5 mil, então tentamos estabilizar o paciente e encaminhá-lo para centros de referência o mais rápido possível.
E mesmo remédios baratos, às vezes acabam na farmácia do município. Os pacientes vêm cobrar que eu prescrevi medicação que não tem na farmácia, e ele não tem dinheiro para comprar.”

"As vezes, tem de escolher quem vai morrer"

Fonte: Site ZERO HORA 
21/09/2013 | 16h02

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabenizo a Dra. Silvia pela coragem em relatar com clareza e simplicidade o que acontece hoje no sistema de saúde pública deste país.

Anônimo disse...

A saúde pública neste país é uma vergonha mesmo, parabéns a doutora pelo desabafo e por mostrar a verdadeira situação do serviço de saúde no interior do estado.
Isso serve de lição para todos nós, ano que vem tem eleições, pensem bem em quem vão votar.