15 de abr. de 2014

Os caminhos da maconha no Uruguai: Consumo, venda ilegal e fabricação de produtos derivados nas praias

 Por: Márcio Régio (Kiko)

Nesta terça-feira (15) vamos reproduzir uma série jornalística sobre os caminhos da maconha no Uruguai. Antes mesmo da regulamentação do comércio e do plantio, a partir deste mês de abril, turistas já procuram as chamadas “praias da maconha”. 
O presidente da Federação de Canabicultores do Uruguai, Julio Rey, lembra que o cultivador doméstico, mediante cadastro, pode ter até seis plantas. Ele afirma que a nova legislação também prevê a formação de clubes canábicos de até 45 pessoas, com 99 plantas. A compra ainda pode ser feita em farmácias, sempre mediante cadastro. “E atenção, pois a lei não habilita o turista a ter maconha, só cidadãos uruguaios maiores de 18 anos e estrangeiros residentes por mais de 90 dias”, diz Rey. 
Turistas não podem levar maconha para o Uruguai e muito menos comprar, até porque o cultivador seria desabilitado e ficaria sujeito a sanções da lei local. Então, a situação que aguarda por uma promessa de fiscalização rigorosa, preocupa autoridades uruguaias e de países vizinhos.

 Consumidor Uruguaio foi morar em praia onde cultiva maconha
Foto: Cid Martins
Praias da Maconha 
Com o objetivo de verificar como está a fiscalização no período pós-aprovação da lei uruguaia e durante a regulamentação do comércio da erva, a Reportagem da Rádio Gaúcha esteve por dez dias no Uruguai, em fevereiro. Lá, a equipe flagrou aluguel de casa com pé de maconha, comércio de produtos derivados da planta – como azeite, bombons e pomadas – e descobriu uma espécie de fumódromo pago na beira do mar. Tudo disponível para turistas estrangeiros entre as praias atlânticas de La Paloma a Punta Del Diablo, passando por La Pedrera, Santa Isabel, Cabo Polônio e La Valizas. São cenários bucólicos distantes 600 quilômetros de Porto Alegre e pouco mais de 100 quilômetros de Chuí. As praias já são frequentadas por usuários de maconha pelo fato de o consumo já ser livre há vários anos. No último verão, relatam alguns comerciantes, aumentou o número de pessoas procurando pela droga. Agora, prestes a ocorrer à regulamentação do comércio e plantio, também é comum ver plantações caseiras e estrangeiros adquirindo de alguma forma a droga. Se por um lado os cultivadores que estão na lista de cadastro do governo garantem que não vendem plantas e sementes, por outro lado, a equipe flagrou irregularidades envolvendo os chamados “cultivadores ilegais”, já que não pretendem se cadastrar e possuem mais do que o máximo de plantas permitidas pela nova legislação. 
Praia de La Paloma 
Nesta praia, um uruguaio ofereceu à reportagem um local reservado para o consumo da droga. Segundo ele, 20 hectares de campos no quilômetro 259 da “Ruta 10″ e informou até o telefone do local. “O cara tem própria planta, tem tudo, canabis total, são 20 hectares de campo e ele cobra 100 pesos uruguaios (cerca de R$ 12,00 – Doze Reais). Tem casa, tem tudo. Deixa o carro lá, aproveita à praia, o campo e ele te cobra uma mixaria para consumir”, afirmou o uruguaio, que disse ser sócio do proprietário do local.
Praia de La Valiza
Nesta praia, onde também é normal ver o consumo de maconha, uma moradora ofereceu à equipe casas para alugar. Ao notar a diferença de preços, já que os imóveis tinham o mesmo tamanho, a reportagem questionou. A resposta foi simples… “Algumas são com direito a horta de “marijuana”, direito a uso (risos), só não pode abusar”, disse o morador.
Praia de Santa Isabel
Neste local há uma comunidade que cultiva maconha. Não há comércio para turistas, no entanto, compartilham a droga com quem quiser. Mas o que chamou a atenção foi à fabricação de produtos derivados da erva. Foi possível encontrar azeite, que é usado em saladas, pomadas para lesões musculares e até mesmo bombons feitos com óleo de maconha. “A gente come, fuma e bebe maconha”, ressaltou uma cultivadora uruguaia.

Bombons feitos com óleo da maconha na praia de Santa Isabel
Foto: Cid Martins

“Tem gente que acha isso bonitinho”, critica o Deputado 
O médico e deputado federal gaúcho Osmar Terra (PMDB) é um dos maiores opositores da regulamentação da maconha e questiona os reflexos da lei uruguaia. “Tem muita gente achando bonito isso. Essa coisa de achar bonito custa caro em termos de saúde pública. Essa coisa de achar bonitinho, bonitinho, moderno, fumar maconha. Isso não tem nada de moderno. Isso tem milênios e a experiência dos povos do mundo foi de reduzir esse consumo.” 


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