Escrito por César Jacinto
Talvez tivessem outra sorte, se não fosse a armadilha no cerro de
Porongos, na madrugada do dia 14 de fevereiro de 1844, mais
precisamente, às 2h, quando sucumbiam perante covarde e tamanha traição
centenas de bravos guerreiros, da tropa de elite de Canabarro, que
ficaram historicamente conhecidos como Lanceiros Negros.
É o nome consagrado aos grupos de infantaria, formado por negros que
lutavam em troca da sua liberdade e pelo ideal da república
rio-grandense. Corajosos e destemidos, eram respeitados pelo exército
inimigo (imperial). Giusepe Garibaldi afirmou que nunca havia conhecido
guerreiros tão bravos em sua trajetória de guerras pelo mundo.
Participaram de grandes campanhas durante a Revolução Farroupilha,
dentre elas a proclamação da república rio-grandense no campo dos
Meneses, na localidade do Seival, hoje município de Candiota, comandados
por Joaquim Pedro Soares e subcomandados por Teixeira Nunes.
Os primeiros corpos de lanceiros foram formados a partir do recrutamento
de domadores e tropeiros, principalmente das charqueadas de Pelotas.
Utilizavam lanças, adagas e facões com extrema habilidade, contavam mais
de 400 homens. O vestuário era constituído de sandálias de couro cru,
chiripá de tecido robusto e colete que recobria o corpo, braçadeira
vermelha. Também eram hábeis cavaleiros.
A ressignificação dessa história tem levado alguns historiadores para o
entendimento de que não foi apenas uma surpresa o que aconteceu naquela
famigerada noite de setembro, no Cerro de Porongos, mas um arquitetado
massacre, cumprindo, segunda a carta já mencionada, o acordo com os
imperialistas, para que não poupassem os combatentes negros da
infantaria farrapa.
Além deste novo olhar quanto à participação dos Lanceiros Negros nas
engendradas batalhas da Revolução Farroupilha, busca-se o reconhecimento
público e interinstitucional da preponderante e fundamental
participação desses guerreiros na construção destas terras do sul.
Terras onde estão as praças, ruas, centros culturais, centros de
tradições gaúchas referenciando a bravura incontestável desses heróis de
todo o povo gaúcho. Quem e a partir de quando começarão a dar voz a
esses contra-hegemônicos guerreiros da liberdade e da justiça?
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