Mais de um século após a mudança de
nome, Pinheiro Machado ainda guarda resquícios e defensores de seu nome
original, Cacimbinhas. Existem opiniões diversas entre moradores,
havendo os que defendem e os que repudiam a atual nomenclatura da
Capital da Ovelha.
Mas o que realmente motivou sua troca de
nome? Quais eram os argumentos para isso? E, principalmente, como a
população cacimbinhense recebeu essa decisão do gestor municipal na
época?
Para iniciar, vale elucidar que o
representante legal do município era o intendente, nomeado pelo governo
do Estado e que tinha autonomia para atos administrativos. Ele fazia
decretos e leis com a concordância do Estado.
O grande precursor da troca de nome foi o
intendente provisório dr. Ney de Lima Costa, que fora nomeado por ato
do governo do Estado em 1° de maio de 1915, tendo tomado posse no dia 6
de maio do mesmo ano.
Já sob a gestão de Costa, Cacimbinhas
sofreu um duro golpe no dia 8 de setembro de 1915. Nessa data, um
cidadão que havia crescido em Cacimbinhas, Francisco Manço de Paiva
Coimbra, assassinara o senador gaúcho José Gomes Pinheiro Machado, mais
conhecido como Pinheiro Machado.
Foi esse ato isolado que levou o
intendente provisório a propor o tão famoso Ato n° 30, de 30 de outubro
de 1915, que mudou o nome de Cacimbinhas para Pinheiro Machado. Todavia,
a decisão não foi bem vista pelos munícipes, que repudiaram e depuseram
dr. Ney pela decisão.
Porém, os detalhes que cercaram esse ato
foram muito além do divulgado na época. É sobre isso que trata uma
importante obra escrita pelo jornalista Luiz Antônio Nikão Duarte,
intitulada “A Guerra de Cacimbinhas”.
No livro, são retratados todos os
roteiros até a mudança de nome do município e como isso influenciou os
moradores da cidade. Especificamente no capítulo “A Mudança”, pag.
61-64, é esclarecido como esse ato governamental foi visto pelos demais
políticos da época.
Reunidas autoridades e população na praça central, foi anunciado o ato administrativo n° 30.
“- Considerando que o nome de ‘Cacimbinhas’, além de irrisório, nada significa na tradição histórica do município;
- Considerando que a mudança do nome
para Pinheiro Machado constitui uma expressiva homenagem à memória
imperecível do indefectível republicano e um preito de gratidão do Rio
Grande do Sul ao seu filho benemérito, tomado pelo punhal assassino dia 8
de setembro do corrente ano na Capital Federal”;
- Considerando que, desta forma, o
Rio Grande do Sul, por um dos seus municípios, mais uma vez lança o seu
veemente protesto contra o bárbaro atentado que ainda sangra o coração
da Pátria, com a perda do inigualável sustentáculo das instituições
republicanas.
Resolve:
Artigo 1° - Fica mudado o nome do município de Cacimbinhas para Pinheiro Machado.
Artigo 2° - O dia de hoje – 30 de outubro – ficará sendo feriado municipal para todos os efeitos.
Artigo 3° - Revogam-se as disposições em contrário.
Publique-se.
Intendência Municipal de Pinheiro Machado, 30 de outubro de 1915.
Ney de Lima Costa, Intendente.
João da Silva Rosa, Secretário.”
Artigo 1° - Fica mudado o nome do município de Cacimbinhas para Pinheiro Machado.
Artigo 2° - O dia de hoje – 30 de outubro – ficará sendo feriado municipal para todos os efeitos.
Artigo 3° - Revogam-se as disposições em contrário.
Publique-se.
Intendência Municipal de Pinheiro Machado, 30 de outubro de 1915.
Ney de Lima Costa, Intendente.
João da Silva Rosa, Secretário.”
A decisão nada mais era do que política e
para bajular seu correligionário e então governador interino do Rio
Grande do Sul, Salvador Pinheiro Machado, irmão do senador assassinado.
Ao menos essa era a visão dos ex-intendentes João Pereira Madruga e João
Maria Barbosa, e também do jovem Hippólyto Ribeiro Junior.
“Esse lambe-botas não tem limite na sua
bajulação”, disse Madruga. Barbosa emendou: “agora o senhor vê como,
desde o princípio, eu tinha razão nas minhas desconfianças com ele”.
Em suma, passaram-se dias e dias de
tumulto e confusão na recém nomeada Pinheiro Machado. Um dos fatos
marcantes foi no dia posterior ao ato. Panfletos espalhados na cidade e
colocados nas portas de residências ridicularizavam a atitude do
intendente Ney.
Por final, a intervenção do Governo do
Estado fez-se necessária, mas nem mesmo isso evitou que o intendente
provisório fosse deposto. Ao longo dos anos, vários foram os pedidos
infrutíferos para a cidade voltar ao nome original.
Mas, afinal, Cacimbinhas ou Pinheiro
Machado? O certo mesmo é que até hoje a população diverge sobre o tema, e
mesmo distantes (e talvez utópicos) da realidade, grupos continuam
sonhando com o velho título de Cacimbinhas.
Redator: Tradição Regional
Fonte: http://www.jornaltradicao.com.br/site/content/variedades/index.php?noticia=17676
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