Escrito pelo professor, Paulo Cesar Brum
Está virando moda se falar que educação de qualidade ocorre principalmente em escolas de tempo integral. Mais uma parola, mais uma informação que não passa de uma balela para se justificar os descalabros da educação brasileira como um todo. O lado positivo desta proposta educacional é que crianças e adolescentes de vulnerabilidade social "teriam" um atendimento no turno inverso. Mas, para isso, se torna necessário que a escola esteja devidamente estruturada e preparada para que não se torne apenas um depósito de crianças sem um atendimento especializado, em suas peculiaridades. E, para isto, a escola não está preparada, com raríssimas exceções. Quem garante que nas escolas de turno integral a educação se dá com qualidade, está, afirmando algo que ainda não foi comprovado, em vista de que as mesmas não estão organizadas de forma administrativa e pedagógica, com um currículo que seja capaz de garantir um maior sucesso.
Em primeiro lugar, porque educação de qualidade não se mede em tempo de horas de permanência na escola. Eu pergunto: será que não havia, por exemplo, uma educação de qualidade quando a lei estabelecia a obrigatoriedade de 180 dias letivos? Então, o que ocorreu se com o aumento para 200 dias letivos a educação só tem decaído em qualidade, de modo especial nas últimas décadas? Evidentemente que outros fatores contribuíram para isto (sociais, econômicos, culturais e políticos), porém, somente com aumento de permanência na escola não é suficiente para se garantir uma melhor qualidade da educação.
Ora, educação de qualidade se faz com um currículo pleno, com objetivos estabelecidos e metas determinadas, em escolas organizadas nos aspectos administrativos e pedagógicos, tendo como base critérios estabelecidos onde a disciplina tenha relevância e seja o alicerce da vida escolar, sem os quais não há, nenhum sucesso e muito menos aprendizagem.
Estamos, sem dúvida nenhuma, em plena era onde o conhecimento e a tecnologia tomaram proporções gigantescas, porém, formando verdadeiros analfabetos funcionais. Alunos, em sua maioria concluindo a educação básica (ensino fundamental e médio) em doze anos ou mais de estudos, com dificuldades ou sem sequer saber e conseguir interpretar ou escrever um texto de média complexidade, sem dominar os mais elementares cálculos matemáticos, sem saber se situar no espaço geográfico e nem ter os mais simples conhecimentos formadores da historia de nossa pátria.
Isto reflete diretamente no momento de ocupar espaço nas oportunidades de trabalho, na vida e no desenvolvimento econômico, social e politico do país. Atualmente, para concluir um ciclo de estudos, os conhecimentos correspondentes lido se tornam fundamentais e imprescindíveis, basta verificarmos que se permite o ingresso no Ensino Médio de alunos que ao menos tenham concluído os primeiros anos de estudo do Ensino Fundamental (ate o 5º ano), basta que tenham completado 18 anos de idade já tem o acesso garantido ao Ensino Médio, onde cada semestre corresponde a um ano de estudo. Virou um verdadeiro vale tudo na educação, onde a defasagem escolar serve de pressuposto para ir adiante. Com isto, se almeja apenas dados estatísticos e não qualidade.
Sendo assim, como vislumbrar um novo horizonte para a educação? Que tipos de cidadãos queremos formar para uma futura sociedade? Quem sentir-se-a entusiasmado e estimulado em seguir a profissão de professor diante de tais fatos? Evidentemente que não podemos almejar uma escola de décadas passadas, pois as transformações foram intensas e profundas, mas não podemos prescindir dos princípios básicos, norteadores que fazem com que a escola funcione plenamente, possibilitando uma formação plena e com êxito. Qual empresa que, carecendo de objetivos e metas em definidas, organizada e disciplinada, vai ter sucesso? Ao contrario, estará fadada a falência e autodestruição.
Lamentavelmente, é o que está ocorrendo com a educação. Os fatos e a politica educacional vigente não nos indicam um futuro muito promissor. Sem falar da desvalorização e o desrespeito que os professores enfrentam no dia-a-dia e por tudo aquilo que ocorre no inicio de cada ano letivo: inclusão e exclusão de matérias, aumento e diminuição de cargo horaria, etc. etc. Nunca se sabe em que barco estamos navegando, pois tudo muda conforme a direção dos ventos. Vivemos no mundo da incerteza e da dúvida, onde o professor não passa de uma mera figura nas Mãos de quem detém o poder, onde seus direitos são subtraídos e desrespeitados a todo momento, não só por um aviltante salario, mas por um indiferentismo sem precedentes na historia do magistério.
Oxalá, que meus pressupostos sejam de um velho professor desiludido com os rumos que a educação vem tomando.
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