3 de fev. de 2010

Pirâmide Invertida: Reflexões de Férias

Por Nadianne Momo
Colunista do Blog


Voltando de férias, em um contraste entre ter muito que falar e nada a dizer. É mais ou menos assim nesta confusão filosófica que a gente vai avaliando a vida, observando o mundo ao redor e tendo a certeza que pouco se sabe e do muito que aprenderemos nada será suficiente.

Não tenho muito clara a proposta de como vou passar neste artigo minhas impressões de férias, mas vou tentar fazer um relato sobre o que “apreendi” e que merece ser compartilhado.

Em janeiro viajei para o Norte do Estado com minha família, e ao mesmo tempo em que tinha a expectativa dos meus passeios, lembrava todo o tempo da nossa região, Campanha e Sul, na qual moro desde que nasci. Comecei a lembrar dos assentamentos da reforma agrária logo que avistei, lavouras imensas, de trigo, soja, etc, plantadas, acreditem, há uns 20 centímetros do acostamento do asfalto. Isso mesmo, 20 cm, beirando a estrada, morro acima, morro abaixo, lavouras variadas que expressam um aproveitamento mais que integral da terra, ai pergunto, porque na nossa zona rural só avistamos campos, campos, lá uma vez ou outra uma horta, mas muitos chamados “pequenos produtores”, comprando alface e couve no supermercado.

Logo depois, em uma pausa em Erechim, cidade de pouco mais de 98 mil habitantes lembrei de Bagé e até Pelotas, nossas maiores cidades e fiquei perplexa mais uma vez. A cidade é toda asfaltada, sinalizada, com semáforos modernos e faixa de pedestre, onde ao atravessá-la, o pedestre tem de fato preferência e os veículos respeitam sendo subordinados aos pedestres e não vice-versa, como acontece em Bagé, onde os carros e seus motoristas mal educados quase passam por cima, param em lugares proibidos, estacionam de qualquer jeito, buzinas veementemente além de outras atrocidades. Enfim, nas esquinas há vasos de flores naturais colocados pela prefeitura. Nos canteiros mais e mais coloridos, gramas bem cortadas, flores de várias espécies e adivinhem, ninguém furta ou arranca e pisoteia como acontece por nossas bandas.

Mais adiante em Concórdia-SC, mais surpresas. A cidade com pouco mais de 69 mil habitantes (compara-se aqui quase 3 vezes menos que Bagé), também é toda asfaltada com sinaleiras modernas, faixas de pedestre onde se respeitam os pedestres, canteiros floridos e ainda abrigos de ônibus fechados com vidro e lâmpada para iluminar a noite (foto). Gente! imaginem, isso daria certo em Pinheiro Machado ou Candiota? Fala sério! Ia ser motel, ponto de fumo, ou qualquer coisa do gênero. Sem falar nos preços, a cidade não é grande, mas o comércio é desenvolvido e competitivo, com promoções arrasadoras, onde se compra uma toalha de rosto a R$ 3,00 de boa qualidade e uma bermuda infantil do Ben 10 a R$ 7,00. Pergunto mais uma vez? Isso se encontra aqui? Não. Pelo contrário, só vemos comércios com empresário, na sua maioria (nem todos) mercenários, pensando só em lucrar abusivamente em cima da ignorância das pessoas que não conhecem os preços reais dos produtos.

Outra surpresa no posto de combustível. Parei para comprar um produto na loja de conveniência e no meu retorno, o frentista, mesmo sem eu ter consumido nada, nem abastecido, abriu educadamente a porta do carro e disse obrigado. Que mimo gratificante, voltarei naquele posto sempre, porque o processo de conquista de um cliente é constante e não significa exatamente de início o lucro. Ah...o dito frentista era um senhor de idade, cabelos grisalhos, será que aqui um “velho” ainda tem oportunidade?! Muito difícil, são menosprezados, sofrem preconceitos e rejeição e quantos deles vemos no mercado de trabalho?

De tudo isso fica a reflexão de como nossas cidades e mentalidades estão atrasadas. De como a maioria das pessoas daqui não gosta de pegar no pesado e só querem se dá bem. O que adianta falarmos em desenvolvimento regional e empreendimentos se a cabeça continuar na mediocridade e se as pessoas não mudarem a cultura. De que adianta eu falar, você ler e concordar ou descordar, está assim há muito tempo, tão cedo não vai mudar até porque se esperarmos pela política...então, uma andorinha só não faz verão!!!

Nadianne Momo é jornalista com pós-graduação em gestão de pessoas. Nascida em Bagé, mas radicada no município vizinho de Candiota, assina a coluna Pirâmide Invertida, que abordará assuntos de interesse da região

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o texto ele expressa bem o que cada um no fundo pensa a respeito de nossa cidade !!
Do atraso ,das coisas naum evoluirem não andarem!!
Infelizmente não podemos fazer muita coisa para mudar o que não depende de uma pessoa só!!