12 de set. de 2010

O desfile de 20 de setembro

Neste final de semana, recebi email da amiga e leitora Lula Farias. O extenso texto conta um pouco da história, com fatos que marcaram o desfile de 20 de setembro no município. Para quem se interessa pelo tema, vale a pena a leitura:


Me sinto a vontade para contar um pouco dos desfiles de Pinheiro, escrevo com humildade.
Sou sócia fundadora do Piquete dos Farias e nossa história se confunde com a história dos desfiles culturais não só de Pinheiro Machado, mas do RS. Sim, aqui que iniciou, depois vieram os outros.

Jamais imaginávamos que uma conversa em roda de mate, num setembro frio e chuvoso, à beira de uma lareira, já faz tempo (1981), fosse frutificar tanto. Assim surgiu nosso piquete que no vigor de nossa juventude, após fortalecer a fundação, sonhou alto e mudou os rumos dos desfiles (1983) trazendo neste ano um clarim farroupilha, os quatro trajes da indumentária gaúcha, uma pipa d’água e um mascate. Notem que não era um tema especifico, não havia narrativa, apenas estrofes de versos para cada personagem mostrado.

Volto um pouco e conto sobre nosso CCTG Lila Alves. Mulheres a cavalo (1974), um grupo de meninas a convite de Nadir Ávila Ferreira, pilchadas de Chiripá, nada de autêntico, pelo contrário, totalmente estilizado (não havia pesquisa na época). Eram agraciados com lembranças o piá mais bem apresentado, o peão e depois a prenda. Nos anos oitenta, com a fundação de vários piquetes, a invernada campeira capataziada pelo seu Hélvio Maciel, destacou o melhor piquete (1982), escolhido por jurados da comunidade. Não havia regulamento nem descontentamento.

Esta invernada campeira foi responsável pela organização dos Rodeios de Pinheiro (1982, o primeiro), trocado posteriormente para Campereada nas Cacimbinhas (1985), que todos conhecemos e temos saudade.

Integrantes do nosso Piquete faziam parte desta invernada campeira e sabendo do desfile surpresa que se apresentaria, sugeriram o nome de um jurado com conhecimento de nossa história, a escolha recaiu no senhor Odil Dutra. A escolha de todos integrantes desta invernada foi que se agraciasse o melhor com uma lembrança que ficasse, a sugestão foi de um troféu, mas teria que ter significado, veio à fundação de nossa cidade e a Cacimbinha virou um troféu, fundido em bronze, doado por um anônimo. Como a guaiaca era pobre, para não ter o mesmo problema todos os anos, ficou acertado que o Troféu Cacimbinhas seria conquistado definitivamente desta maneira: três anos consecutivos ou cinco alternados. Na sequência, tivemos o Troféu Lila Alves, e posteriormente os troféus passaram a serem anuais.

No final dos anos oitenta, surgiu um piquete de jovens, que também com seu vigor, agregou muito aos desfiles, inclusive mostrando que todos tinham condições de fazer. Ligeirinhos, ficaram com o Troféu Lila Alves (Piquete Tropilha Crioula).
Olhando para trás fico maravilhada com a infinidade de temas abordados, com as importantes mensagens culturais e nem tão culturais assim, com reconstituições históricas belíssimas, enfim, manifestações autênticas, fruto de amor ao gauchismo.
Pesquisas importantes iniciaram nos desfiles dos piquetes e culminaram em trabalhos apresentados por prendas, como é o caso da bombacha como indumentária alternativa para mulher.

Curiosidade, segredos e enfoques culturais sobre o mesmo assunto, também não faltaram. Habilidades tiveram nossos narradores que tiraram proveito e resultaram um tema completando o outro.

Chegamos ao topo quando de doze piquetes desfilando, nove traziam temas. Não podemos esquecer do povo que também evoluiu, adquiriu cultura, passou a ser exigente e a eleger os seus favoritos. Vimos nossos jovens elegerem a bombacha (sem medidas) como moda. O gosto pelos nossos costumes é a garantia que nossa tradição preservada.

Os julgamentos foram consequência. Tinha que haver um vencedor. Temos que elogiar e agradecer o desprendimento dos jurados (pelo que sei não recebem). E julgamento é o momento, é o melhor no gosto do jurado, em determinado momento. Aí ficou difícil, saber ganhar é fácil, porem perder nem todos sabem... Houve uma exigência muito grande com os julgamentos e os jurados tiveram que ir para os detalhes, contar peças, mensurar, serem objetivos e a subjetividade perdeu espaço. O gosto pelo melhor tema cedeu ao que menos erro cometeu. E veja o quão difícil é apresentar um tema, a céu aberto, a cavalo e relativamente rápido. Não podemos deixar de mencionar uma certa tendência a teatralização. Aqui fica um alerta, o tempo não pode ir alem da paciência de quem assiste. Se há dispersão, acabou o interesse, perdeu a razão.

Não podemos é deixar nossa autenticidade. Nossos bois e cavalos não podem ser de gesso, e nem terem efeitos especiais. Não podemos cair nos carros alegóricos, nos churrascos de isopor e nas alegorias de mão. Temos é que preservar nossa riquíssima cultura e termos nossa alma gaúcha.

O bonito esta às vezes nas coisas mais simples.
Só quem desfila pode sentir a aura mágica que cerca a rua Nico de Oliveira... Que venha nosso 20 de setembro!

5 comentários:

Carlise disse...

Admirável, parabéns!!!

Anônimo disse...

O texto é fantástico, corretissimo e serve de alerta realmente.

Anônimo disse...

Ótimo, diz tudo!! Devemos admirar nosso lindo desfile! A todos que fazem parte dessa história... parabéns!! Aos piquetes, devemos ter cuidado com a teatralização que está acontecendo nos ultimos anos, não podemos confundir a data... é de a cavalo e com instrumentos da cultura que deve-se fazer os temas, de a pé é 7 de setembro!!! 20 de setembro... uma data importante para nós que deve ser cultivada!!

Paulo Renô disse...

Parabéns Lula!
É ótimo saber que existem pinheirenses, que mantém viva a história do 20 de setembro, e também
preocupan-se com o rumo que o mesmo tomará.

Unknown disse...

A contribuição do Piquete dos Farias para os desfiles temáticos é fundamental. Pena que não tem o devido reconhecimento do MTG.
Agora, discordo que desfiles que tenham teatro não mereçam credito. Acho que é uma forma de arte importantissima para a transmissão da cultura. Acho que pode dar muito certo.
Abraço.
Moura Jr.