Estávamos ainda no ônibus. Umas trinta ou quarenta pessoas, todos professores, na maioria mulheres. O veículo estaciona em frente a uma igreja. Diziam que era toda decorada com ouro em seu interior. Alguns desceram e entraram no templo, outros resolveram esperar.
Naquele momento, uma das passageiras, que estava dentro da igreja, foi até a rua e viu o ônibus partindo.
- Parem esse ônibus – gritava e balançava os braços no meio da rua – Por favor, me ajude, eu perdi aquele ônibus – parou ela na frente de um fusca, com um velhinho na direção.
O senhor, sem entender muito, a mandou entrar e seguiram atrás do veículo. Desesperada, ela gritava:
- Mais rápido. Buzine. Mais rápido, não perde ele de vista.
De repente, após andar três quadras, o ônibus pára. A professora, meio transtornada desce do fusca e agradece. Dentro do coletivo, todos se perguntavam como, onde e porque a colega estava saindo do fusca, se há pouco ela tinha entrado na igreja com as outras. Ela, ainda esbaforida, começa a contar que ao sair da igreja viu o veículo em movimento e achou que tinham esquecido dela.
Em meio a risadas, confessou que estava tão nervosa que não se deu conta que o ônibus fazia a volta da quadra para estacionar melhor. O fato serviu de piada por muito tempo em outros encontros do grupo.
Assim também é na vida. Em alguns momentos, pelo desespero da situação fazemos coisas absurdas e até hilárias. Depois lembramos e rimos. Pensar antes de fazer é a lógica, mas infelizmente nem só de ciências exatas é feito o mundo. Cabe muitas vezes ao arrependimento contornar os fatos já consumados.
Outro dia, por exemplo, conheci um administrador, bastante influente, que costuma dispensar os sábados para reunir toda sua equipe de trabalho e visitar seus clientes. Incrivelmente ele tem cerca de 300 mil para atender, e os visita montando seu escritório cada sábado em um bairro diferente.
No último final de semana, o ilustre gestor comemorou o atendimento de número 11 mil, em apenas 2 anos e 4 meses de empresa. O deslocamento do escritório está na edição 98, firme e forte.
Enquanto isso, um outro gestor, em um lugar distante, afirma ter estudado na mesma escola do ilustre empreendedor e tenta alcançar o ônibus... dando voltas e voltas na quadra. Sem se dar conta que o tempo passa e que ainda não chegou a lugar algum.
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5 comentários:
É, sempre tem aqueles que saem do templo, e ficando dando voltas na quadra. Parabéns pelo texto. ótimo!
Belo texto. Dá até pra imaginar quem seria o personagem... hehe
Só pode ser o prefeito, em se tratando de que "o ilustre empreendedor" sonsegue visitar 300 mil pessoas enquanto o prefeito daqui não consegue nem sair na rua a pé de vergonha do que não faz há 2 anos e 4 meses. Ótimo texto Rosângela, pra bom entendedor meia palavra basta.
Adorei Rosangela, parece que tem pessoas que nunca se dão conta do que estão fazendo e que o tempo passa e ainda mais que estão sendo avaliadas pelas pessoas.
Preferem tapar os ouvidos e achar que são o máximo.
belo texto, parabéns.
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