30 de nov. de 2011

Observar e Reagir: Tem um elefante branco no meio do caminho ...



Por Vera Oliveira




Contam que o rei do antigo Sião (atual Tailândia) costumava agraciar determinadas pessoas, em sinal de apreço e deferência, presenteando-as com um elefante branco. Animal sagrado para a cultura daquele povo, o presente era, ao mesmo tempo, uma honraria e um estorvo. Imaginem quão trabalhoso era cuidar de um animal desse porte, que, na prática, não servia para absolutamente nada.
Nossa cultura é bem diferente e não há, por aqui, elefantes brancos, propriamente ditos, razão porque os inventamos, talvez. E, assim, costumamos chamar de elefantes brancos, os prédios públicos inacabados ou mesmo àqueles construídos para abrigar projetos inexeqüíveis ou megalômanos. Esses prédios são muitos, espalhados pelo Brasil afora e nós, aqui em Pinheiro, também temos o nosso. Pelo menos, um. Sabem aquele prédio, perto do trevo de acesso à BR 293, à direita, para quem sai da cidade pela Av. Gervásio Tavares? - Aquele prédio, ao que se sabe, era para ser um depósito de cereais, com instalação de silos para armazenamento de grãos e começou a ser construído no 2° mandato do governo Betiollo, que não terminou as obras, deixando essa tarefa de herança (maldita) para o próximo prefeito. Na ordem, Felipe da Feira e Fernando Leivas, também não concluíram a construção, nem deram destino algum ao tal prédio, que permanece, até o momento, na sua condição elefantérrima.
Em tese, são desconhecidas as razões que motivaram a realização dessa obra,pois, ao que se sabe, ninguém reclamou ou sentiu falta dos serviços que seriam oferecidos à população, caso, consolidado, efetivamente, o empreendimento. Desse modo, a existência dessa construção poderia cair no mais absoluto esquecimento, se não fosse pelo fato da Caixa Econômica Federal reclamar o valor do financiamento. Aproveitando o ensejo, é, no mínimo, estranho que essa mesma Caixa Federal possa vir a financiar outro empreendimento para a Prefeitura Municipal de Pinheiro Machado, tais como, as anunciadas e desejadas obras do calçamento, sem que estejam pagas ou regularizadas as dívidas já existentes. Na prática, regularizar a inadimplência é pré- requisito para novos créditos.
Os prefeitos, aqui citados, cada um no seu tempo e a sua maneira, devem ter explicações para justificar a real situação em que se encontra, atualmente, o prédio em referência. A dívida, porém, é do município de Pinheiro Machado e alguém terá de pagá-la. Por isso é importante que o gestor público tenha os pés no chão. Administre o município com o orçamento na mão e a razão voltada para atender às necessidades mais prementes da população (saúde e educação, em primeiro plano) e, se mesmo assim, vier a ser acometido por algum surto psicótico, delírios fantasiosos de realizar grandes obras, uma visita ao psiquiatra (analista, de preferência) é a providência mais recomendada.
Necessitamos, dentre outras coisas, de um hospital que funcione, de rede de esgotos, do próprio calçamento, que é uma necessidade urgente da população das vilas e de uma secretaria de cultura, que resgate nossa história e devolva à população a auto-estima perdida.
Enquanto isso e em compensação, temos um elefante branco, pelo menos, um.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhoso,com conteúdo!Todos deveriam ler.

Sandro disse...

Parabéns pelo inspiradíssimo texto Vera, sintetiza com maestria como ocorre uma gestão sem planejamento fiscal e sem um exame mais apurado sobre as reais finalidades e necessidade de uma obra pública, o que inclusive, é vedado de forma expressa por disposições normativas de Direito Financeiro.
Será que era tão difícil perceber que Pinheiro Machado não comporta um armazém de silos como o citado, sem contar que a cidade não possui uma vocação voltada à agricultura que permita utilizar tão vultoso prédio? É assim que se iniciam as dívidas que se tornam impagáveis em pouco lapso de tempo.
Oportunamente, como já comentamos em conversas, há estudos concluindo que não são as obras a grande dificuldade dos governos, há verbas disponíveis para construções em todas as áreas, notadamente por parte do Governo Federal. O problema reside na manutenção dos prédios, as chamadas despesas correntes. Quantos hospitais existem por aí, Brasil afora, sem condições mínimas de funcionamento, por falta de recursos humanos e técnicos? O exemplo elucida a ideia aqui exposta.
Enfim, reitero minhas congratulações, teu texto trata de verdades que há muito deveriam ter sido ditas de forma tão clara e informativa.

Sandro.