Sob pressão da
nova onda de alta do dólar, o governo deve bater martelo nesta
sexta-feira na decisão sobre a fórmula de reajuste dos combustíveis.
Conforme analistas, o mais provável é que seja autorizado um aumento,
mas os preços não poderão variar conforme as cotações internacionais,
como queria a Petrobras.
Está marcada
para sexta-feira uma reunião do conselho de administração da estatal,
presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tratar do
assunto, mas até o início da noite de ontem não havia confirmação de
horário nem de local. Havia a expectativa de que Mantega acertasse ontem
com a presidente Dilma Rousseff a decisão sobre o pedido da Petrobras
de criar uma espécie de gatilho, que dispararia elevações e reduções de
preço. Esse mecanismo seria acionado quando passasse de certo limite a
diferença entre os preços dos combustíveis no Brasil e os do mercado de
referência, no Golfo do México.
Na terça-feira,
as ações da Petrobras despencaram 6% na bolsa de valores depois de
declarações de Mantega de que o mecanismo de correção de preços
solicitado pela estatal não poderia ser feito "de improviso" nem com
efeito inflacionário. Embora a presidente da estatal, Graça Foster,
sustente que o gatilho valeria tanto para aumentar quanto para reduzir o
preço dos combustíveis, uma alta exagerada da gasolina e do diesel
poderia contaminar outros preços no Brasil. Além disso, o gatilho
poderia ser adotado em outros segmentos, gerando uma nova onda de
indexação — correção automática de preços com base em um determinado
indicador.
Depois de
passar vários anos com preços artificialmente estáveis, como medida de
combate à inflação, a Petrobras passou a pressionar o governo para
retomar a fórmula de reajuste automático que vigorou entre 1998 e 2002.
Estima-se que a estatal tenha perdido em média R$ 5 bilhões por
trimestre desde o início de 2012 vendendo gasolina e diesel para as
distribuidoras por preço mais baixo do que paga ao importar. Diante dos
resultados da Petrobras no segundo semestre, Valter de Vito,
especialista em petróleo da Tendências Consultoria, considera
"inevitável" um reajuste.
— Deve ocorrer um aumento de 7%, para gasolina e para o diesel — projeta.
Até
quinta-feira, o preço da gasolina vendida pela Petrobras em suas
refinarias no Brasil estava 27,4% abaixo do valor no Golfo do México,
enquanto o do diesel tinha defasagem de 28,6%.
O aumento
estimado, conforme Vito, não acabaria com a diferença, mas ajudaria a
empresa a recuperar credibilidade no mercado. Os preços só ficariam
equivalentes se o governo adotasse a nova fórmula de cálculo para
reajuste. No entanto, o plano acabou esbarrando na resistência do
Planalto.
— Essa mudança
está cada vez mais distante, pois não é de interesse do governo, que
quer evitar um impacto maior na inflação — avalia De Vito.
O mecanismo automático
Apesar de a
autossuficiência em petróleo ter sido anunciada em 2006, a queda na
produção e o aumento no consumo forçaram a retomada nas importações de
óleo e de combustíveis.
Nos três
últimos anos, a valorização do dólar e o aumento nas cotações
internacionais do petróleo elevaram o valor das importações da
Petrobras.
Para evitar que
aumentos da gasolina e do diesel pressionassem a inflação, o governo
não permitiu que os preços cobrados pela Petrobras nas refinarias
acompanhasse essa alta internacional.
Com isso, a
Petrobras perdeu receita e teve de desembolsar mais dinheiro, o que
reduziu o lucro da estatal e fez cair o preço de suas ações na bolsa.
Ao mesmo tempo, a estatal tem de cumprir um pesado programa de investimentos para desenvolver o pré-sal.
Em outubro, a
estatal fez um pedido para que os preços cobrados nas suas refinarias
seguissem a flutuação das cotações internacionais. Nos Estados Unidos, é
assim que o mercado de combustíveis funciona. Nos postos, o preço de
venda ao consumidor é livre.
Fonte: Zero Hora
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