Por: Miguel Régio
Nos últimos tempos, talvez em algumas décadas, têm-se desenvolvido um
processo de ostracismo voluntário das pessoas no que diz respeito às
atividades que exijam qualquer tipo de convívio, de interação, de
participação física e presencial. Isso é perceptível, principalmente,
nos bailes sociais, e em igual forma em quase todos os eventos públicos
ou privados voltados a uma louvável atividade fim do ponto de vista
cultural ou intelectual. Por quase trinta anos, a geração da primeira
década da segunda metade do século vinte sofreu uma alienação política
compulsória, porque não era do interesse dos donos do poder a capacidade
de questionamento e cobrança por parte da população. Essa lógica
persistirá enquanto houver miséria cultural; enquanto a luta pelo pão de
cada dia não der espaço para o conhecimento, para o crescimento do
indivíduo a alturas que o permitam divisar horizontes antes
desconhecidos. Enquanto não vivermos em uma democracia fortalecida, com
história e exemplos de respeito às instituições, às leis e aos preceitos
éticos e morais, não galgaremos o fosso que nos separa da verdadeira
civilização.
Nosso povo, e parece que os governos atuais até
incentivam que assim seja, adquiriu uma inexplicável predileção pelo
nível mais baixo. Se noutros países o sucesso, o crescimento econômico,
intelectual, social, profissional, espiritual e material é uma coisa
louvável, no Brasil parece ser o contrário. Programas de televisão tecem
loas à mediocridade, filmes nacionais mostram o lado obscuro do país,
como se fraquezas e misérias fossem trunfos louváveis e não mazelas a
serem tratadas no âmbito da intimidade doméstica. Nossos jovens, que
parecem estar acordando de um longo sono, contentam-se com o menos, mas
não o menos do uso moderado, do consumo consciente, da negação da
ostentação; o menos que gera qualidade de vida, leveza de espírito, o
menos que não escraviza e que não oprime... O menos que satisfaz. Não!
Eles parecem contentar-se com menos cultura, menos conhecimento, menos
responsabilidades, menos participação, menos envolvimento... E por aí
poderia seguir-se uma longa lista.
Será que nossos jovens são assim tão enfraquecidos de metas, de
objetivos,
de ideais, por uma característica que lhes é peculiar, ou será que são
fruto de uma geração condescendente, que não soube passar-lhe melhores
valores?
Esta pergunta, e a pergunta do título, surgiram durante o
1º Fórum Multidisciplinar em Gestão Ambiental, ocorrido durante esta
semana no Teatro Ludovico Pórzio. Nesta oportunidade, professores,
mestres e doutores, cada um de uma área específica, iluminaram-nos com
seus conhecimentos e
questionamentos. Inseridos no tema maior, voltaram-se às propostas de soluções para problemas crônicos de nossa região.
Ainda
que se necessite construir pontes entre a academia e o mundo real, é
essa relação mútua que fortalece as economias mais sólidas do planeta; é
o valor agregado de conhecimento, o diferencial entre o primitivo e o
moderno, entre o obsoleto e o atual, entre o fracasso e o sucesso.
Bem-vindos sejam, senhores, agradecemos-lhes pela preocupação com nossa
terra, com nossos problemas, com nossa inércia histórica, e pedimos-lhes
que perdoem nossa sociedade por não se fazer presente em um evento
gratuito e de tão elevado nível.
Sabemos que são cônscios das
dificuldades enfrentadas, mas rogamos-lhes que não desistam e, ainda,
que insistam, pois quem sabe no segundo ou no terceiro fórum tenhamos
uma platéia repleta não apenas de alunos universitários, mas de pessoas
mais interessadas nos destinos de sua terra; pessoas que fazem e farão
diferença no traçar dos novos rumos de um ambiente humano que se
desenvolva sem agredir o ambiente natural, que deixe espaço e
oportunidades para muitas futuras gerações. Quem sabe tenhamos mais
professores, mais estudantes secundaristas, mais políticos, mais
pecuaristas, mais agricultores... Enfim, o povo de maneira geral, pois
os assuntos abordados servem a todos aqueles que anseiam por um futuro
melhor.
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