9 de dez. de 2013

Onde foi parar o interesse?

 Por: Miguel Régio

Nos últimos tempos, talvez em algumas décadas, têm-se desenvolvido um processo de ostracismo voluntário das pessoas no que diz respeito às atividades que exijam qualquer tipo de convívio, de interação, de participação física e presencial. Isso é perceptível, principalmente, nos bailes sociais, e em igual forma em quase todos os eventos públicos ou privados voltados a uma louvável atividade fim do ponto de vista cultural ou intelectual. Por quase trinta anos, a geração da primeira década da segunda metade do século vinte sofreu uma alienação política compulsória, porque não era do interesse dos donos do poder a capacidade de questionamento e cobrança por parte da população. Essa lógica persistirá enquanto houver miséria cultural; enquanto a luta pelo pão de cada dia não der espaço para o conhecimento, para o crescimento do indivíduo a alturas que o permitam divisar horizontes antes desconhecidos. Enquanto não vivermos em uma democracia fortalecida, com história e exemplos de respeito às instituições, às leis e aos preceitos éticos e morais, não galgaremos o fosso que nos separa da verdadeira civilização.


Nosso povo, e parece que os governos atuais até incentivam que assim seja, adquiriu uma inexplicável predileção pelo nível mais baixo. Se noutros países o sucesso, o crescimento econômico, intelectual, social, profissional, espiritual e material é uma coisa louvável, no Brasil parece ser o contrário. Programas de televisão tecem loas à mediocridade, filmes nacionais mostram o lado obscuro do país, como se fraquezas e misérias fossem trunfos louváveis e não mazelas a serem tratadas no âmbito da intimidade doméstica. Nossos jovens, que parecem estar acordando de um longo sono, contentam-se com o menos, mas não o menos do uso moderado, do consumo consciente, da negação da ostentação; o menos que gera qualidade de vida, leveza de espírito, o menos que não escraviza e que não oprime... O menos que satisfaz. Não! Eles parecem contentar-se com menos cultura, menos conhecimento, menos responsabilidades, menos participação, menos envolvimento... E por aí poderia seguir-se uma longa lista. 


Será que nossos jovens são assim tão enfraquecidos de metas, de
objetivos, de ideais, por uma característica que lhes é peculiar, ou será que são fruto de uma geração condescendente, que não soube passar-lhe melhores valores?


Esta pergunta, e a pergunta do título, surgiram durante o 1º Fórum Multidisciplinar em Gestão Ambiental, ocorrido durante esta semana no Teatro Ludovico Pórzio. Nesta oportunidade, professores, mestres e doutores, cada um de uma área específica, iluminaram-nos com seus conhecimentos e
questionamentos. Inseridos no tema maior, voltaram-se às propostas de soluções para problemas crônicos de nossa região. 


Ainda que se necessite construir pontes entre a academia e o mundo real, é essa relação mútua que fortalece as economias mais sólidas do planeta; é o valor agregado de conhecimento, o diferencial entre o primitivo e o moderno, entre o obsoleto e o atual, entre o fracasso e o sucesso. Bem-vindos sejam, senhores, agradecemos-lhes pela preocupação com nossa terra, com nossos problemas, com nossa inércia histórica, e pedimos-lhes que perdoem nossa sociedade por não se fazer presente em um evento gratuito e de tão elevado nível. 


Sabemos que são cônscios das dificuldades enfrentadas, mas rogamos-lhes que não desistam e, ainda, que insistam, pois quem sabe no segundo ou no terceiro fórum tenhamos uma platéia repleta não apenas de alunos universitários, mas de pessoas mais interessadas nos destinos de sua terra; pessoas que fazem e farão diferença no traçar dos novos rumos de um ambiente humano que se desenvolva sem agredir o ambiente natural, que deixe espaço e oportunidades para muitas futuras gerações. Quem sabe tenhamos mais professores, mais estudantes secundaristas, mais políticos, mais pecuaristas, mais agricultores... Enfim, o povo de maneira geral, pois os assuntos abordados servem a todos aqueles que anseiam por um futuro melhor. 


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