15 de abr. de 2010

Coluna de Quinta: Por incrível que pareça, ainda existem gibis


Por Vinícius Peraça

Dia desses fui à dentista e fui surpreendido na sala de espera. Em meio às surradas revistas de fofocas com manchetes do tipo “Mariah Rocha passeia com o filho e o namorado” – alguém sabe quem é essa cidadã?! – encontrei um artefato raro, quase uma relíquia nos dias de hoje: um gibi.

Para a gurizada mais nova, da era Ben 10, não se assustem. Gibi não é o nome de nenhum tipo de traça gigante que se alimenta de revistas de gosto duvidoso. Gibis são pequenas revistas de historias em quadrinhos, tão ligado? (É bom explicar, senão o pessoal pode querer mandar a vigilância sanitária no consultório da coitada da minha dentista...)

A surpresa ao encontrar uma revista do Chico Bento na sala de espera foi tão grande que fiquei surpreso com a minha surpresa! Ora, como pode alguém se admirar ao encontrar um gibi?! Depois de ler – ou melhor, devorar as historinhas –, comecei a pensar sobre o assunto enquanto a doutora furungava nos meus dentes com aquele motorzinho enjoado.

É engraçado como coisas importantes estão se perdendo com o tempo. Os gibis são parte essencial da minha alfabetização, da minha formação. Foi com pilhas deles que meu pai insistia em comprar todos os meses que aprendi a compreender textos, ligar ideias, raciocinar. Tenho certeza de que se não fossem as revistas em quadrinhos do Tio Patinhas e do Chico Bento hoje eu não seria um jornalista – não que isso seja grande coisa, também.

Mas o que acontece é que não me conformo com esse sumiço das revistinhas. Se não fosse a minha dentista deixar alguns gibis soltos ali por cima da mesa da sala de espera, provavelmente eu nunca mais tivesse me divertido com os planos infalíveis do Cebolinha para roubar o coelho da Mônica.

Provavelmente eu não chegue a lugar algum com esse manifesto em favor dos gibis. É praticamente impossível fazer a gurizada abandonar os desenhos japoneses na TV e o Orkut para ler quadrinhos. Triste isso, porque isso pode fazer falta em algum momento. Seja como divertimento como também por aprendizado.

Porém, se eles não querem ler gibis, minha vontade de rir com o Cascão só aumentou depois de encontrar um sobrevivente soterrado sob as Contigos assassinas do consultório da minha dentista. Tanto que já marquei com ela de extrair dois cisos. Um hoje, outro semana que vem. Assim fico duas vezes na sala de espera e consigo terminar de ler um Cebolinha e um Tio Patinhas que vi por lá na última consulta.

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5 comentários:

Júlio Peraça disse...

Sensacional! Fiquei com saudades daquelas pilhas de gibis que tínhamos. Onde será que foi parar!? :(

Niaia disse...

Eu também lamento muito as "revistinhas" e os jogos de hoje.
Também criei meus filhos com enxurradas de gibis e um livrinho que se chamava "Amiguinho" (me parece, não recordo bem). Sei que além de historinhas saldáveis tbm tinha passatempos diversos que estimulavam a alfabetização das crianças - no caso, as minhas.
Assinava anualmente os dois e tinha uma coleção imensa de gibis e cai na asneira de doar. Pelo menos foi para uma escola. Espero, sinceramente, que eles estejam usando no auxilio da alfabetização de seus alunos.
Os outros livrinhos e alguns de histórias tipo "Os três Porquinhos", "Saci Pererê", "Branca de Neve" entre outras que lia na minha infância ainda conservo-os intactos.
Pretendo ter netos né, e com certeza, vou incentivá-los a gostar dessas hostorinhas.
Sou radicalmente contra esses video games de lutas que só incentivam a violência.
Bah, nostalgia é bom ou ruim heim???

Míramis disse...

Concordo plenamente com este assunto, na verdade, confesso que até hoje sempre que posso leio um gibi ou outro, é realmente divertido!!! aind tentarei influeciar meu filho a aprender a ler com eles...

Anônimo disse...

Meu filho adora que eu leia para ele essas historinhas, ele tem sete anos e sempre que vamos a uma banca escolhe um, ainda mais agora que já está lendo sozinho. Fiz uma coleção de livro de historinhas tipo, tres porquinhos, a bela e a fera e outros e ele adora. Acho que isso vai dos pais incentiva o hábito da leitura. Meu filho ja tem acesso ao computador, adora jogar video game, mas os livros estão lá e tbem fazem parte da rotina dele.

Dorisa Luz disse...

Vinícius não concordo com a tua ideia de que hoje as crianças não leem mais gibis e que nem os conhecem. Tenho uma filha que fez 9 anos nesta semana (20 de abril) e que lê muito gibi, principalmente da turma da Mônica, Turma da Mônica Jovem e, por incrível que pareça, Luluzinha. Também convivo com muitas crianças da idade dela e todos "adoram gibis", mais que Herry Potter! Também acontece com os maiores, alunos de 5ª, 6ª, 7ª, 8ª e até mesmo alunos do Ensino Médio. Trabalho muito com histórias em quadrinhos em minhas aulas, porque, assim como tu, acho muito importante para os alunos relacionarem imagem e texto! Só fico um pouco entristecida quando levo para a sala de aula alguma tirinha do Hagar, o Horrível, e faço o seguinte questionamento: "Onde está o humor da tira?" e meus alunos respondem que não acharam graça nenhuma! Mas podes ter certeza, as crianças de hoje em dia leem muito gibi e gostam. Acho que isso, como toda e qualquer leitura, tem que ser incentivado por pais e professores. Inclusive, minha filha comprou semana passada (da mesada dela), um livro da Turma da Mõnica com toda a reforma ortográfica. Isso não faz com que ela deixe de acessar orkut, joguinhos da internet e até atualizar seu blog, pois, quando ela está disposta, após a leitura de algum livro, posto o resumo no blog e também reproduz os textos que escreve no colégio. Abraços.