As BRs 293 e 153 que atravessam os municípios da região foram incluídas em uma pesquisa da Confederação Nacional de Transporte (CNT) de Rodovias 2014 publicada na semana passada. O levantamento apontou que mais de 65% das rodovias gaúchas sofre com algum tipo de deficiência - parte dos quesitos pesquisados, foram classificados como regular.
As rodovias são importantes para o Estado. Isso não apenas pela questão da mobilidade como também como vias de escoamento de produção. Contudo, as informações do levantamento sobre as rodovias do Rio Grande do Sul verificam que há muito a ser melhorado.
Em relação às BRs 293 e 153, os resultados não foram satisfatórios.
Quanto ao estado geral, a BR 153 teve 9,5% da extensão considerada ótima; 43% considerados bons trechos; regular com 38,6% e ruim com 5,4%. Os trechos péssimos somaram apenas 3,5%, com 11 quilômetros.
No mesmo quesito, a BR 293 não teve nenhuma indicação de trechos em ótimo estado, ruim ou péssimo. Em bom estado foram 43,5%, totalizando cerca de 206 quilômetros; regular, com 56,5 quilômetros e ruim com 268 quilômetros.
Em relação às características, como pavimentação, sinalização e geometria, ambas foram consideradas regulares. A BR 153 apresenta bom estado de conservação do pavimento, sinalização regular e geometria ruim. A BR 293 também apresenta bom estado de conservação do pavimento, sinalização regular e, sua geometria também foi considerada regular.
Em relação a serviços, somente a BR 293 se sobressaiu com um número negativo. Apesar de ter ultrapassado o índice mínimo em alguns quesitos, como borracharias, posto de abastecimento e lanchonete, não foi registrada a presença de oficinas durante toda a extensão pesquisada.
Vale ressaltar que a manutenção da BR 293, até o início deste ano, era de total responsabilidade da concessionária Ecosul. Entretanto, com rescisão do contrato deste trecho, que liga Bagé a Pelotas, a conservação da via fica a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit).
Na pesquisa, foi demonstrado que os trechos administrados por gestão concedida apresentaram índices superiores aos geridos pelo Estado.
Avaliação dos usuários
O caminhoneiro Clênio Jair Schneid, passou mais de 20 de seus 44 anos rodando nas rodovias do país. Ele trilhou o mapa do Brasil através de suas vias e tem conhecimento de causa quando opina sobre cada quesito.
Para ele, tanto a BR 293 quanto a BR 153 podem ser consideradas boas. "Apesar de alguns trechos eventuais apresentarem buracos, principalmente depois de chuva intensa, não é nada que chegue a atrapalhar o trabalho. Eu acho que já esteve muito pior", relata.
Conforme Schneid, tanto no quesito da pavimentação quanto de infraestrutura, as duas rodovias não apresentam tanta deterioração. Contudo, em relação aos serviços, há defasagem. "A gente anda muitos quilômetros até achar algum borracheiro, alguma oficina. E a maioria não funciona de noite. Em uma questão de emergência não dá pra contar", avalia sobre a ausência de oficinas na BR 293.
Caminhoneiro por mais de 20 anos, Kroger Alberto Ávila de Paiva, 40 anos, agora só utiliza as rodovias por lazer, para viajar com a família. Mas ainda tem contato direto com viajantes, já que é proprietário de um restaurante da BR 293.
Paiva conta que sempre que sai com a família, percebe alguns pontos críticos, que fazem jus à avaliação de "regular" das estradas. Um dos fatores agravantes apontados por ele foi o afundamento nas cabeceiras de ponte. "Cada vez que a gente passa por uma ponte, o carro dá um solavanco, afunda", oberva.
Além disso, ele ressalta que há muitas ondulações no decorrer da pista, principalmente por causa do peso dos veículos pesados, falta de sinalização e iluminação em alguns trechos. Em muitos, a ausência de uma rotatória já causou acidentes, conforme ele aponta. "No trevo da BR 293 com a RS 473, no caminho para Dom Pedrito, não tem rotatória. E seguidamente dá acidente ali, porque é escuro e o cruzamento é confuso", afirma.
Visão de quem atua nas rodovias
O chefe da Unidade Operacional da Polícia Rodoviária Federal de Bagé, Ibsen Pons, também destacou outros pontos críticos. Ele informa que em alguns trechos da BR 153, principalmente, em dias de chuva, a água acumulada deixa grandes poças na pista. A falta de aderência pode causar aquaplanagem em dias de chuva forte.
Já na BR 293, o policial destaca que os principais problemas são buracos causados pelo tráfico intenso de caminhões, que realizam o escoamento de produção para o Porto de Rio Grande. Para ele, a falta de manutenção pode agravar uma situação de risco, mas não é totalmente responsável pelos acidentes. "É claro que contribui, mas o maior risco sempre é a imprudência dos motoristas", disse.
Panorama nacional
A coleta dos dados foi efetuada entre os dias 19 de maio e 17 de junho. Ao todo, foram analisados 98 475 quilômetros de rodovias.
A pesquisa tem como objetivo a avaliação das características das rodovias pavimentadas brasileiras que afetam, direta ou indiretamente, a segurança e o desempenho oferecido aos usuários do sistema rodoviário nacional.
Em 2013, os gastos com acidentes rodoviários custaram aos cofres públicos mais de R$ 17 bilhões. A pesquisa indica que se as rodovias estivessem em bom ou ótimo estado, haveria redução de até R$ 1,79 bilhão, além de reduzir em até 1,96 milhão de toneladas, a emissão de gás carbônico para a atmosfera.
Dos 98 475 quilômetros, quase 50% apresentam problemas como buracos, trincas, afundamentos, ondulações, entre outros defeitos.